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Assim como ocorre com um mau aluno, o Brasil foi reprovado na escola do mercado internacional e recebeu nota vermelha em seu boletim. A prudência recomenda examinar o ocorrido, entender o que aconteceu e alterar o comportamento para que, no futuro, as coisas possam melhorar. No mundo globalizado, quase todos os países se relacionam com o resto do mundo, pois praticamente ninguém consegue sobreviver sem participar das trocas internacionais de bens e serviços. No mercado mundial, as relações se dão no plano da importação e exportação de mercadorias, de um lado; e no plano dos capitais que fluem de um país a outro em forma de empréstimos, investimentos diretos e aplicações financeiras.

Para funcionar, a economia brasileira depende de suprimentos estrangeiros (como é caso da importação de trigo, insumos industriais e tecnologia) e exporta aquilo de que tem excedente (caso da soja, açúcar, carnes, minério de ferro) como meio de ajudar no suprimento do mundo e obter moeda estrangeira para pagar as importações. Ao importar e exportar, o Brasil forma um saldo comercial, que pode ser superavitário ou deficitário na moeda estrangeira padrão, o dólar. No tocante aos capitais estrangeiros, os bancos e os fundos de investimentos aplicam seu dinheiro no Brasil, comprando ativos financeiros locais, basicamente títulos públicos, títulos privados e ações de empresas brasileiras.

Ou o Brasil faz as reformas estruturais que vem adiando há tempos ou continuará reprovado aos olhos do mundo

Enquanto no caso das exportações e importações de bens e serviços o que conta é a capacidade do país em produzir e competir no mercado externo, em relação aos capitais financeiros os fatores que mais influenciam são o grau de confiança, a capacidade de pagar os compromissos, a taxa de juros interna e as boas condições da economia e da política. Os fundos de investimento ao redor do mundo têm regras para decidir onde aplicar seus recursos e, como medida de precaução e segurança, seus estatutos os obrigam a investir somente em países com notas boas dadas pelas agências de classificação de risco.

Quando o Brasil conseguiu elevar sua nota e passou a ser classificado como “grau de investimento” – portanto, apto a receber dinheiro dos bancos e dos fundos de investimento de outros países –, o presidente Lula se ufanou e disse que o Brasil passara a ser considerado um país sério e digno de receber os capitais internacionais. Em verdade, Lula queria mesmo era dizer que ele e seu governo respondiam pelo bom desempenho do país e mereciam ganhar aplausos e votos. Pois agora o Brasil acaba de ser rebaixado por uma das três agências mais importantes e perdeu a boa nota relativa ao grau de investimento em função da piora sensível nos fundamentos da economia e nos indicadores financeiros do país.

Como o rebaixamento da nota se deu sob o quarto mandato do PT, Lula resolveu dizer, na Argentina, que essa nota vermelha não significa nada e criticou duramente a mesma agência que ele elogiara quando ela elevou a nota do Brasil. Bravatas e incoerências do ex-presidente à parte, o fato é que não se trata de uma questão ideológica ou de opinião. A piora dos indicadores econômicos brasileiros é um fato concreto e mensurável por números. A única coisa que não é mensurável por uma régua financeira é a instabilidade política, mas a deterioração da governabilidade é clara e visível.

A estagnação econômica, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, o agravamento da recessão, o recrudescimento da inflação, o aumento do desemprego e a brutal elevação do déficit público para perto de 10% do PIB são alguns dos elementos que podem levar as outras duas grandes agências a também rebaixarem a nota brasileira. Se isso ocorrer, a perda do grau de investimento nas três principais agências de classificação de risco será um duro golpe para a economia brasileira e, ao contrário do que disse Lula, terá consequências graves, das quais duas se destacam: a elevação das taxas de juros cobradas pelos bancos internacionais nos empréstimos ao Brasil; e a retirada de capitais dos fundos de investimentos que aplicaram em ativos brasileiros.

Tentar diminuir a importância do rebaixamento da nota do Brasil é um erro grave, já que a causa repousa na piora da situação econômica e política do país. Ou o Brasil faz as reformas estruturais que vem adiando há tempos ou continuará reprovado aos olhos do mundo. A dúvida é se o atual governo tem condições políticas de aprovar qualquer reforma. Tudo indica que não tem.

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