A aprovação do relatório da CPI dos Bingos no Senado foi um momento de afirmação do Congresso, após a paralisia dos últimos meses. A estagnação ocorre desde a desorganização da maioria governista após o escândalo do mensalão, se agravou com o acúmulo de medidas provisórias que travaram a pauta das duas Casas parlamentares e deve continuar sob a campanha eleitoral. Esse conjunto de questões, cumulado com a invasão da Câmara por um bando radical, acirrou os ânimos contra o governo, a ponto de o presidente Aldo Rebello ter enfrentado o próprio presidente em defesa do Congresso.
O protesto do ponderado Rebello, ademais companheiro político do Palácio do Planalto pelo PC do B, ocorreu após a declaração do Presidente de que a votação da extensão do aumento do salário mínimo para os aposentados "não foi séria". O dirigente parlamentar reagiu afirmando que "não é didático nem democraticamente pedagógico que o presidente da República trate o Poder Legislativo em tom de depreciação e menosprezo. Esse tipo de atitude não demonstra conhecimento a respeito do papel do Parlamento nos regimes democráticos".
Dando ênfase à sua irritação, o presidente da Câmara assinalou que a responsabilidade pela não-aprovação de propostas de interesse do Executivo decorre de desacerto na articulação política, porque em tese o governo é majoritário no Congresso. O problema se repete com a aprovação do relatório da CPI dos Bingos, confirmando a perda de maioria situacionista também no Senado. Após o escândalo do mensalão, o governo só consegue fazer avançar alguma proposta quando negociada em bases suprapartidárias com a oposição. Por isso o senador Cristovam Buarque, no lançamento de sua candidatura presidencial pelo PDT, alertou para os riscos que cercam a democracia: acaso reeleito com larga votação popular, mas com minoria parlamentar o atual presidente poderia se ver tentado a mobilizar "movimentos sociais" para pressionar o Congresso na linha de caudilhos latino-americanos.
A mesma posição foi repetida em São Paulo pelo deputado Ricardo Izar, presidente do Conselho de Ética da Câmara, preocupado com que, na eventualidade de um segundo mandato, Lula "jogue contra" o Congresso. Mais de um observador alertou que já agora a edição de MPs sem fundamento relevante, ao promover o trancamento da agenda deliberativa da Câmara e Senado, pode estar servindo para descaracterizar o funcionamento regular do Legislativo. Entre nós um dirigente empresarial alertou que esse uso recorrente de MPs vai criando uma "jurisprudência" legislativa contrária aos interesses gerais da sociedade como as MPs 293 e 294, em votação nesta semana que reforçam o poder de intervenção de Centrais Sindicais.
Tal risco existe, sendo conveniente a vigilância do bom senso porque nossa democracia ainda se acha em fase de consolidação, e nela o instituto da reeleição que "não fazia parte da nossa cultura jurídica" pode se tornar um fator de desequilíbrio adicional, conforme alertou o ministro Marco Aurélio de Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
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