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O discurso do presidente Bush ao Congresso americano, nesta semana, representou uma forte mudança na sua política internacional, ao abandonar o unilateralismo dos últimos anos em favor de ação cooperativa com outras nações. Enfrentando dificuldades internas e externas, Bush fez um esforço significativo para relançar o país, buscando deter a erosão da influência dos Estados Unidos no mundo.

Esse ajuste da estratégia aos novos tempos, tendo como pano de fundo o impasse da intervenção no Iraque, tentou sensibilizar a nova maioria oposicionista nas Casas do Congresso e, paralelamente, convencer a opinião pública relutante do país. Mas o primeiro teste não funcionou, com a influente Comissão de Relações Exteriores do Senado adotando resolução contrária à ampliação do envolvimento iraquiano.

No cenário internacional a situação é igualmente negativa. Uma pesquisa de opinião conduzida por um consórcio anglo-americano em 25 países de vários continentes mostrou que jamais a imagem pública dos Estados Unidos foi tão negativa. Inclusive no Brasil, as pessoas ouvidas tenderam a associar a perda de credibilidade daquela nação ao desempenho errático de seu governo sob o mandato de George W. Bush.

Infelizmente essa percepção, contaminada pela conjuntura adversa, leva ao esquecimento da contribuição positiva do povo norte-americano em dois séculos de vida independente em campos como a introdução de uma democracia estável sob uma Constituição inovadora; o pioneirismo na organização econômica e na operação das empresas; a vanguarda nas descobertas científicas e sua aplicação na tecnologia – beneficiando o dia-a-dia de milhares de pessoas. Tanto que no território do país se alojam instituições modelares para o mundo contemporâneo como as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional – fruto do idealismo de líderes como Woodrow Wilson, Franklin Delano Roosevelt e, no passado, Benjamin Franklin e Abraham Lincoln, entre outros.

Não obstante, ao levar para a Casa Branca um fundamentalismo de corte anacrônico, o segundo Bush espalhou desconfiança na capacidade de os Estados Unidos liderarem como superpotência remanescente da Guerra Fria, comprometendo esperanças abertas no alvorecer do século 21. Sua estratégia canhestra para lidar com o fenômeno do terrorismo, agravado com os ataques suicidas às torres gêmeas dentro do próprio solo norte-americano, em vez de desencorajar ampliou os grupos islâmicos radicais mundo a fora. Os exemplos à mostra – deterioração do cenário iraquiano e o caos que assola o Líbano – enfraquecem os regimes muçulmanos moderados em meio a uma onda de retrocesso.

Não é de admirar que os próprios norte-americanos se mostrem céticos em relação ao governo Bush. Por isso a mensagem presidencial sobre o estado da União, última tentativa de um líder em declínio – apesar de focar pontos de consenso como a questão ambiental –, foi pouco ouvida por seu próprio povo, a esta altura voltado para outras alternativas políticas.

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