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O Paraná entra numa de suas maiores safras de grãos, com a expectativa de colher 20 milhões de toneladas de soja e milho, nossos dois principais produtos agrícolas. Pelo clima favorável, a agricultura sustenta, ao iniciar a colheita, a previsão lançada lá no plantio, em setembro do ano passado. No entanto, mesmo num ano bom para a produção no campo, o estado sabe que seu perfil agroeconômico está em transformação.

Na safra passada, Mato Grosso passou à frente do Paraná na colheita de grãos. Alcançou 28,3 milhões de toneladas, considerando as 15 principais culturas, do algodão ao triticale. Enquanto isso, por causa da seca e dos períodos de chuva em excesso, as lavouras paranaenses renderam 24,9 milhões de toneladas, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Agora, os paranaenses tendem a recuperar a liderança, com uma vantagem de 29,6 milhões para 27,5 milhões de toneladas. Porém, as perspectivas do setor não são mais as mesmas. Ficou claro que, para seguir na linha de frente, é necessário manter apostas na agroindustrialização e na diversificação.

Os investimentos privados vão passar de R$ 1 bilhão em 2010, considerando o orçamento das cooperativas. E o governo estadual busca R$ 91 milhões junto ao Banco Mundial para fortalecer cadeias produtivas que envolvem a agricultura familiar. A estratégia é agregar valor à produção tradicional e explorar melhor setores como a fruticultura, cada vez mais tecnificada. Além disso, a produção de açúcar e álcool, uma das opções mais rentáveis do último ano, deve continuar em expansão.

Principal pilar da economia do estado, o agronegócio tenta se antecipar a mudanças que estão ocorrendo pela própria estruturação da economia brasileira. A expansão das lavouras em regiões que possuem muito mais terras disponíveis anuncia que a liderança paranaense na produção de grãos é provisória. Mato Grosso abre vantagem cada vez maior na soja, que se expande também na região de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, o MATOPIBA, a nova fronteira agrícola brasileira. É nessas regiões que os produtores com vocação agrícola estão investindo. Eles sabem que novos canais de exportação vão tornar os grãos do Paraná mais caros que os do Nordeste quando o destino for a Europa.

Isso não quer dizer que o Paraná deverá trocar soja e milho por culturas menos expressivas e rentáveis. Pelo contrário, tende a ganhar em produtividade e manter a área atual. Mas para que a economia do estado cresça e ganhe maior expressão entre os estados brasileiros, setores associados ao campo, como o da produção de carnes, terão de se expandir. Não é à toa que o estado, ao lado de Santa Catarina, importa a maior boa parte do milho que vem do Paraguai. Bovinos, suínos e aves consomem ração feita também com grãos de Mato Grosso do Sul.

A tendência aparece nas prateleiras dos supermercados. Centenas de itens produzidos por cooperativas e agroindústrias independentes chegam com qualidade e preços cada vez mais competitivos ao consumidor. Já é possível optar exclusivamente por alimentos do Paraná, do tofu de soja orgânico ao café tipo exportação. Além do mercado interno, as vendas a outras regiões e países estimulam a expansão dessas empresas e provocam mudanças que o estado assimila ano após ano.

A mudança de perfil ocorre aos poucos. Em municípios como Toledo, mesmo sem redução no cultivo de grãos, o valor da produção agrícola foi deixado para trás pela somatória da renda da transformação e distribuição. Uma amostra clara de que é possível crescer valorizando o que se tira da terra e do trabalho, sem ir muito longe, mas olhando para o futuro.

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