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O sistema de transporte público de Curitiba, que já foi considerado modelo internacional e inspirou soluções semelhantes e bem-sucedidas em diversas cidades no Brasil e no exterior, está diante de um dilema. Com o número de passageiros transportados caindo ano após ano desde 2008 e o custo da tarifa técnica prestes a beirar os R$ 3 – 15% a mais que o preço da passagem, de R$ 2,60 –, o transporte público corre o risco de entrar em uma espiral sem fim: cada vez menos passageiros tendo de pagar cada vez mais pelo serviço, que já é deficitário.

Reportagem da Gazeta do Povo publicada na quarta-feira dá uma ideia das dimensões do problema: o rombo da Urbs em dezembro do ano passado foi de R$ 6,8 milhões. O reajuste do diesel e a mera reposição da inflação para motoristas e cobradores – que já estão negociando com as empresas e pedem 30% de reajuste – faria a tarifa técnica (o custo real por passageiro) subir para R$ 2,99. Caso não haja reajuste da passagem, o déficit mensal subiria para R$ 9,2 milhões mensais, isso sem considerar aumentos em outras despesas, como pneus e impostos.

O subsídio estadual ao transporte coletivo está garantido apenas até maio, e não há informações sobre o projeto que reduziria a carga tributária estadual sobre o combustível dos ônibus, o que aumenta a perspectiva de que um reajuste da passagem ocorrerá mais cedo ou mais tarde. O aumento já havia sido mencionado pelo prefeito Gustavo Fruet logo no início de seu mandato – ele prometeu, porém, que o valor não chegaria aos R$ 3,10 pedidos pelas empresas de transporte. No entanto, levantamento do Instituto Paraná Pesquisas publicado também na quarta-feira indica que 60% dos curitibanos já consideram alta demais a tarifa atual, de R$ 2,60.

Para conter a sangria, a Urbs recorre à venda de espaços publicitários em aparelhos de televisão dentro dos ônibus. Uma solução que pode inclusive ser ampliada para contemplar, por exemplo, as próprias carrocerias dos veículos, como é feito em diversas metrópoles ao redor do mundo. É desejável que o sistema se torne autossuficiente, mas apenas colocar as contas no azul não basta: o desafio principal é reconquistar o passageiro curitibano. Se o aumento na tarifa realmente for inevitável, é urgente a adoção de mudanças que façam o ônibus compensar em relação ao carro, cada vez mais comum nas ruas da capital graças aos diversos incentivos ao consumo concedidos pelo governo federal nos últimos anos.

Mesmo se, na ponta do lápis, os gastos do motorista com a manutenção de seu carro, combustível e estacionamento forem maiores que o custo de usar o ônibus, dificilmente o curitibano recorrerá ao transporte coletivo se ele não for confiável e confortável. Como as maiores reclamações dos moradores da capital se relacionam justamente a atrasos e superlotação nos veículos, estes problemas deveriam estar entre as prioridades da nova gestão municipal. Em 24 de janeiro, a Gazeta do Povo divulgou que a Urbs estuda a implantação de faixas exclusivas para ônibus em vias importantes de Curitiba, o que amenizaria o problema da pontualidade – e, ao reduzir o espaço para os carros, provocaria mais congestionamentos, aumentando o "custo psicológico" de dirigir, o que poderia levar motoristas a trocar o carro próprio pelo ônibus. Ainda assim, seria preciso achar soluções para a superlotação verificada em várias linhas importantes do sistema curitibano.

Também faltam ao cidadão curitibano informações sobre quão confiável é seu sistema de transporte coletivo. A divulgação dos indicadores de desempenho (cumprimento de viagens no horário programado; satisfação do usuário com a qualidade dos veículos e conduta dos operadores; interrupção de viagens por falha nos veículos; liberação de vistoria e de autuações) estipulados pela licitação de 2010 é pífia ou inexistente – no máximo, sabe-se que as metas de pontualidade no primeiro ano após a concorrência não foram atingidas, e mesmo assim as empresas não foram punidas. Esperava-se que, com a mudança de gestão, a transparência passasse a ser a norma, o que ainda não ocorreu. Assim, fica ainda mais difícil convencer o curitibano a aderir ao transporte público.

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