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Passado o segundo turno das eleições presidenciais – e para governos regionais em vários estados, inclusive no Paraná – com a confirmação da vitória do presidente Luís Inácio Lula da Silva para um segundo mandato, o país tem que se voltar para a reconstrução das pontes de entendimento entre os vencedores e os derrotados. A hora é de apresentação, debate e adoção de uma agenda para o futuro, como admitiu o próprio dirigente vitorioso, a fim de que possamos recuperar o passo no rumo da modernidade contemporânea.

Esse desarmamento dos espíritos não chega ao extremo de um pacto nacional, idéia formulada por aliados do presidente vencedor mas repelida pelos oposicionistas mais aguerridos por verem ali um estratagema que levaria à sua anulação política. De fato o clima vigente não recomenda essas teses de "concertação" ou união nacional, ademais não comuns nas democracias de massa, onde o ganhador dos votos majoritários governa e os minoritários se reorganizam no aguardo de um novo ciclo eleitoral.

O que o pluralismo democrático pede é o respeito mútuo entre as duas correntes que se defrontaram nas urnas, em obediência às "regras do jogo"; afinal, trata-se de partidos adversários e não inimigos em guerra. A tolerância deve ser, pois, a linha principal de atuação de vencedores e vencidos, na boa e velha tradição da civilidade republicana.

Quanto à essência do programa para o segundo mandato, o governo Lula e as forças que o apóiam terão que se dedicar à construção de um sistema viável de gestão pública, corrigindo as contradições que foram se acumulando, entre elas a redução controlada das despesas públicas. O presidente já se mostrou contrário a mudanças profundas, que mais chocam do que resolvem problemas, porém um esforço paulatino de melhorias é necessário, dado o esgotamento do atual modelo de estabilidade sem crescimento. Doutro lado as alterações do cenário internacional, com desaceleração da economia americana, estão a indicar a necessidade de ajustes para não sermos colhidos no contrapé de uma recessão mundial.

Mais do que reformas pontuais – nas instituições políticas, regime fiscal, relações federativas – o Brasil precisa encarar a necessidade de uma evolução cultural, que inclua reflexão amadurecida sobre nosso papel num mundo globalizado. Foi o que fizeram nações colocadas diante da escolha entre duas visões de mundo: o Japão da era Meiji (cerca de 1865), a Suécia do final do século 19 e os asiáticos do ciclo recente.

Para um exemplo oportuno vale avaliar a diferença de abordagem sobre a globalização entre a América Latina e os BRICs - países emergentes de escala em que nos incluímos, ao lado da Rússia, Índia e China. Enquanto os latino-americanos adotam uma postura reativa, nossos parceiros nesse conjunto encaram as mudanças em curso como oportunidade para ocuparem espaço num mundo integrado. Esse é o desafio que espera os vencedores, na liderança da sociedade brasileira.

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