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Carteira assinada
| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Durante o primeiro semestre de 2021, houve um descolamento entre dados do Ministério do Trabalho, responsável pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), e do IBGE, que realiza a Pnad Contínua – enquanto o Caged registrava meses seguidos de geração de vagas com carteira assinada, a Pnad mostrava o desemprego em alta. No segundo semestre os números passaram a convergir, com o desemprego recuando segundo os números do IBGE e alimentando a esperança de uma recuperação mais consistente do mercado de trabalho. No entanto, este início de 2022 trouxe de volta a divergência nos números: o Caged continua sua sequência de saldos positivos (155 mil vagas em janeiro e 328 mil em fevereiro), mas o desemprego medido pela Pnad estacionou em 11,2% no trimestre móvel encerrado em fevereiro, taxa idêntica à do período entre outubro de 2021 e janeiro de 2022, e 0,1 ponto porcentual maior que a dos últimos três meses do ano passado. O número de desempregados também se manteve na casa dos 12 milhões de brasileiros, pelos dados do IBGE.

Os dados apresentados pelo IBGE nesta quinta-feira trazem alguns destaques positivos na comparação do último trimestre móvel (dezembro de 2021 a fevereiro de 2022) com os três meses anteriores (setembro a novembro de 2021). Houve queda de 0,4 ponto porcentual na taxa de informalidade e de 6,3% na população subutilizada; os subocupados (que trabalham menos horas do que poderiam) caíram ainda mais, 12,5%. Além disso, o número de brasileiros com emprego formal subiu 1,1% na mesma comparação e o rendimento médio parou de cair. O IBGE enxergou como positiva a redução na quantidade de brasileiros trabalhando por conta própria – queda de 1,9% na comparação do último trimestre móvel com o trimestre anterior –, pois na maioria dos casos trata-se de um “empreendedorismo de necessidade”, em que o trabalhador não encontra outra opção a não ser a atividade autônoma para ter uma fonte de renda.

As perspectivas para uma retomada dos investimentos e contratações ficam mais distantes enquanto durar o aperto monetário promovido pelo Banco Central para conter a inflação

Ainda assim, é preocupante a estagnação, pelo segundo mês consecutivo, da taxa geral de desemprego, após a boa sequência que durou de junho a dezembro do ano passado, quando o índice caía meio ponto porcentual mês após mês. Por mais que os 11,2% de fevereiro ainda tenham sido melhores que a expectativa de mercado, que projetava algo entre 11,3% e 11,8%, ainda havia a esperança de uma recuperação mais duradoura do mercado de trabalho, já que, em um cenário de retomada econômica, o emprego é o último indicador a reagir. O que os números mostram, no entanto, é que o fôlego dado pelo crescimento de 4,6% no PIB em 2021 pode já ter acabado, ao menos no que diz respeito aos índices de emprego. E 12 milhões de brasileiros sem trabalho, formal ou informal, ainda são um contingente muito grande a perpetuar uma grande mazela socioeconômica.

E as perspectivas para uma retomada dos investimentos e contratações ficam mais distantes enquanto durar o aperto monetário promovido pelo Banco Central para conter a inflação. Em meados de março, o Copom decidiu por mais um aumento da taxa Selic, para 11,75%, e já indicou a possibilidade de nova elevação na próxima reunião. As projeções do mercado financeiro apontam para uma Selic de 12,75% ao longo de todo o segundo semestre de 2022, uma taxa que pode até frear a inflação, mas também prejudica muito o crédito, o consumo e os investimentos, com reflexos na geração de empregos.

Nessas condições, não há outra saída para retomar o crescimento e a geração de empregos a não ser aquilo que o Banco Central vem apontando seguidamente, após cada reunião do Copom: a aprovação das reformas macroeconômicas, como a tributária e a administrativa, e a retomada do ajuste fiscal. Neste pacote, mesmo as medidas que não apresentam impacto direto sobre o mercado de trabalho têm efeito benéfico ao restaurar a credibilidade brasileira diante do investidor, controlando gastos e ajudando a puxar para baixo a inflação, o dólar e os juros. É bem verdade que há uma série de eventos com efeitos negativos para a economia brasileira, como a invasão russa na Ucrânia, a pressão inflacionária global e um possível aumento de juros nos Estados Unidos; mas isso não pode servir de desculpa para que Executivo e Legislativo deixem de fazer o que precisa e pode ser feito.

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