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Quando o governo Irlandês anunciou que o seu déficit público nominal de 2010 ficaria em um terço do Produto Interno Bruto (PIB), não restou dúvida de que a crise daquele país tinha atingido proporções gigantescas. Os sinais vitais da economia irlandesa estão deteriorados e, se fosse uma empresa, estaria quebrada irremediavelmente. Porém o que mais preocupa os governos e os agentes econômicos em relação a essa situação não é o problema específico da Irlanda, mas o fato de que aquele país é apenas uma amostra da situação que, com pequenas variações, atinge vários países europeus.

O figurino da descida ladeira abaixo da economia europeia é bem conhecido: déficits crônicos nas contas públicas, perda do dinamismo na produção, envelhecimento da população, perda da capacidade de inovação e aumentos nos gastos com saúde, previdência, assistência, seguro- desemprego e com aportes para salvar o sistema financeiro, cujo abalo começou pelo aumento da inadimplência nas carteiras de crédito imobiliário. Os bancos irlandeses também emprestaram vultosos volumes de dinheiro para compradores de imóveis e tudo parecia ir muito bem até o momento em que o quadro começou a se inverter, indo da queda no valor dos imóveis, inadimplência dos devedores e prejuízos bancários chegando até as dificuldades dos bancos irlandeses em pagar os empréstimos tomados de bancos e fundos europeus.

Embora seja um país que tenha crescido por quase duas décadas a taxas expressivas, a Irlanda teve grande expansão no seu mercado de construção civil, o que fez os preços dos imóveis subirem e deixou os bancos abarrotados de clientes querendo empréstimos para comprar suas casas. A história toda já é bem conhecida: a expansão comportou-se como uma bolha, depois do pico o mercado imobiliário se retraiu, os preços começaram a cair, os devedores foram dando calote nas dívidas, os bancos perderam dinheiro e a bola de neve seguiu correndo até que o sistema financeiro do país começou a ruir. Para não deixar a economia ir à bancarrota total, o governo passou a fazer elevados aportes de recursos para salvar o sistema bancário e a consequência está refletida nos enormes déficits nas contas públicas.

No desespero, o governo irlandês pediu ajuda aos países da zona do Euro e ao Fundo Monetário Internacional, com a promessa de adotar um duríssimo programa de austeridade nas contas públicas. Por esse programa, o governo promete baixar o déficit público de 32%, em 2010, para 3%, em 2014, por meio de redução de gastos com benefícios sociais, demissão de funcionários, aumento de impostos, entre outras medidas. A população está nervosa e já saiu às ruas em protestos para pressionar o governo, que já marcou novas eleições.

O problema é que a Irlanda não está sozinha nesse figurino de graves problemas econômicos na zona do Euro. Portugal, Espanha, Grécia e Itália são países que, de uma forma ou de outra, também estão vivendo momentos ruins em suas economias, o que acaba tendo efeitos negativos sobre toda a Europa e colocando dificuldades para o sistema de moeda única.

As consequências para o Brasil estão ligadas ao comércio exterior e ao ingresso de capitais estrangeiros para investimentos diretos. Se a Europa reduzir a demanda agregada, as exportações brasileiras para aquele continente sofrerão diminuição. Esse é mais um complicador para o comércio exterior brasileiro, pois a China, que é grande comprador do Brasil, também deve passar por alguma redução do seu consumo e, assim, reduzir suas importações. Como as exportações do Brasil já vêm sofrendo os efeitos do câmbio baixo (que provoca retração nas vendas ao mercado externo, ao mesmo tempo em que estimula as importações), uma fase de mais redução no consumo internacional causaria piora nos saldos do balanço de pagamentos do país.

Além de prejudicar a produção e o emprego, um cenário de piora constante teria, caso se realizasse, também o efeito de reduzir a entrada de capitais para investimentos produtivos no Brasil. Não se deve apostar alto num cenário externo muito pessimista para os próximos anos, pois os governos estando tomando medidas para evitar o caos, mas é recomendável reconhecer que as economias da Europa, dos Estados Unidos, da China e do Japão não cessam de emitir sinais preocupantes quanto ao seu futuro. Assim, parece prudente que Brasil tenha um plano alternativo para enfrentar anos de mercados desaquecidos e que defina estratégias para que a economia interna sofra o mínimo possível.

Dilma Rousseff pode não ter a mesma sorte de Lula, que passou seus oito anos com o mundo em situação bem melhor e tendo uma grande crise da qual o país se saiu bem. Mas é nos períodos de vacas magras que os líderes revelam sua grandeza ou sua pequenez.

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