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O Estado nada mais é do que a união da população de um país, para agir de forma coletiva e sob o mesmo conjunto de leis, a fim de resolver problemas cuja solução individual é difícil ou impossível. Os economistas falam dos bens coletivos não excluíveis que, uma vez produzidos, não excluem ninguém dos seus benefícios e, por isso, devem ser pagos por toda a sociedade. Um exemplo desse tipo de bem é a defesa nacional. Uma vez que se defende o país das agressões externas, por meio de suas forças de segurança e inibição, não existe como excluir qualquer um dos benefícios dessa proteção. Existem outros bens e serviços que, por sua natureza, devem ser produzidos de forma coletiva para uso comum. Um exemplo é uma estrada que liga duas cidades, que só faz sentido, tanto do ponto de vista econômico como da maximização do seu uso, se ficar à disposição das populações das duas cidades. Outro exemplo é o caso de uma epidemia que, ao atacar toda a população de uma região, só pode ser erradicada se todos os habitantes forem tratados e imunizados, o que requer uma ação de todos, uma ação pública dirigida por órgão coletivo.

Não é preciso ir muito além para concluir que a primeira função de um Estado eficiente é ser bem aparelhado e estruturado para oferecer os bens coletivos e/ou públicos. Nessa categoria estão in­­vestimentos e serviços de defesa, justiça, seguran­­ça, ruas, praças, estradas etc. Ainda que determinados investimentos ou a gestão operacional de partes do processo possam ser feitos pelo setor privado, a regulação e a oferta final é competência do Estado, que tem no governo seu braço executivo. No mundo moderno, as sociedades delegaram ao governo outras tarefas, como cuidar, de forma pú­­blica, da educação, da saúde, do combate à fome, da redução da pobreza e das políticas de distribuição de renda. Ou seja, o Estado passou a ser utiliza­­do para melhorar a face humana do sistema econômico, cujo funcionamento é pautado por dura competição e eficiência, o que leva a negligenciar considerações humanitárias com as parcelas menos capacitadas da população.

Portanto, não há discussão mais inútil do que colocar o problema em termos de Estado mínimo e Estado máximo. O que define o Estado ideal para a sociedade não é seu tamanho. É, antes de tudo, sua capacidade de ação e seu grau de eficiência. Um Estado reduzidíssimo, mas que seja altamente incompetente, pouco serve à sociedade, contribuindo mesmo para empobrecê-la. Já um Estado maior, mas que funcione com eficiência, é útil para promover o bem-estar social e o desenvolvimento nacional. Focar a discussão sobre o tamanho do Estado é boa estratégia para deixar em segundo plano a discussão sobre temas como ética pública, equilíbrio financeiro do governo, eficiência e competência dos órgãos estatais, que são os te­­mas relevantes. A eficiência do governo é a gran­­de questão que deve ser debatida.

A julgar por sua insistência em lançar a pecha de privatista nos seus adversários eleitorais, o presidente Lula demonstra disposição para privilegiar o debate em termos de Estado mínimo e Estado máximo. Tal postura pode ser apenas uma estratégia para ganhar a eleição, uma espécie de vale-tudo, já que ele próprio foi beneficiado quando transformou a palavra "privatização" em coisa do demônio e pregou o rótulo de privatista no seu adversário da última eleição presidencial. Como arma eleitoral pode ser válido, mas isso não contribui para melhorar o nível do debate nem o grau de consciência da população sobre o que realmente importa, que é a corrupção, a ineficiência do Estado e o inchaço da máquina governamental. Essas são as doenças mais graves do setor público e que ajudam a dificultar o crescimento do Brasil. Ademais, a carga tributária já atingiu o seu limite, a dívida pública tem de ser controlada, os gastos públicos correntes explodiram e, mais do que nunca, o governo precisa atrair capitais privados para investir em infraestrutura e outros bens públicos necessários para suportar o crescimento econômico.

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