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A teoria econômica explica o funcionamento do sistema econômico e a maneira como a sociedade produz, distribui, consome, acumula e progride em termos de bem-estar físico, mental e intelectual; e explica também a lógica interna de cada parte do sistema e a harmonia necessária entre as peças que compõem o conjunto da economia nacional. Já a política econômica é representada pelo conjunto de leis e práticas governamentais de intervenção no domínio econômico, com vistas a objetivos como crescimento do produto, da renda e do emprego; controle da inflação; melhoria do bem-estar; e redução da desigualdade.

No âmbito do governo, as grandes políticas públicas são a fiscal, a monetária, a cambial e a de crédito. Dado o grande tamanho do governo, a política fiscal é a principal peça do sistema e, conforme o andar de suas contas, o crescimento econômico e o desenvolvimento social serão melhores ou piores. Ao ter arrecadação tributária efetiva superior a 36% do Produto Interno Bruto (PIB) e gastar em torno de 40% desse mesmo PIB, o setor público direciona a economia como um todo, a começar pelos investimentos em infraestrutura física. Pelos resultados de suas contas, o governo ainda contribui para diminuir ou aumentar a inflação e os juros. E assim, sucessivamente, as diversas medidas de política econômica vão ditando os rumos de toda a nação.

Um dos problemas crônicos da economia brasileira é a eterna necessidade de elevar a taxa básica de juros – que não tem como objetivo beneficiar banqueiros, como muitos pensam – a fim de impedir a explosão da inflação, que é a maior praga contra os pobres. As razões por que o Brasil padece desse mal há tanto tempo são várias. Para Barry Eichengreen – professor da Universidade de Cambridge (Reino Unido) que andou fazendo palestra no Brasil há algumas semanas –, a divergência entre as políticas fiscal e monetária é um dos motivos possíveis na explicação dos juros altos. O professor alertou para o risco de déficits públicos crônicos elevarem desmedidamente a dívida do governo e acabarem jogando um país numa crise pesada.

Para o economista italiano Vito Tanzi, PhD por Harvard e que também andou por aqui, enquanto os países desenvolvidos se deparam com o esgotamento das políticas usadas para tentar retomar o crescimento econômico no pós-crise de 2008 – como a elevação de gastos públicos ou os juros muito baixos –, o Brasil deve entrar em 2015 de olho em dois importantes desafios: a queda dos preços das commodities no mercado internacional e a necessidade de ajustes, especialmente na área fiscal. As últimas estimativas informam que a equipe econômica terá como primeira tarefa descobrir fórmulas para cortar cerca de R$ 100 bilhões dos gastos públicos a fim de equilibrar o orçamento fiscal e impedir a explosão da dívida do governo.

É nesse quadro que a presidente Dilma Rousseff resolveu esquecer tudo o que disse durante a campanha – quando atacou duramente Marina Silva, dizendo que entregar o comando da economia a banqueiros era tirar a comida da mesa dos pobres – e listou justamente três banqueiros entre os candidatos a ministro da Fazenda. Com a negativa do presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, ao convite feito para assumir o posto de ministro, a imprensa já divulgou que o escolhido será outro dirigente do Bradesco, o economista Joaquim Levy, de convicções liberais e doutor pela Universidade de Chicago, a mais liberal de todas as escolas de economia.

Justiça seja feita: Joaquim Levy tem experiência no governo e é reconhecidamente competente e de personalidade forte. Entretanto, sua marca é ser duro e ortodoxo na gestão das contas públicas e longe do pensamento típico dos economistas do PT, o que já levou setores do partido a criticar a indicação. Levy é um economista liberal e defensor do livre mercado, portanto, contra as ideias estatizantes do partido do governo. Sua indicação é sinal de que ou a presidente Dilma aceita retomar o tripé econômico de Fernando Henrique (superávit primário, câmbio flutuante e metas de inflação) ou a cadeira de ministro será ocupada por pouco tempo.

Se o anúncio da nova equipe econômica se confirmar com Joaquim Levy no cargo de ministro da Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento e Alexandre Tombini no Banco Central, e se Dilma der a essa equipe a autonomia necessária, o futuro da política econômica está delineado: rigor nas contas públicas, volta do tripé de Fernando Henrique, respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal, dureza no combate à inflação e diminuição do intervencionismo governamental. Ou seja, tudo aquilo que a candidata Dilma dizia que a oposição iria fazer.

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