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O dólar dispara, as bolsas despencam, bancos falem, o crédito evapora, os mercados entram em pânico no mundo inteiro. O que virá daqui para frente? Esta é a pergunta que todos se fazem e não há ninguém, até agora, que tenha oferecido respostas minimamente seguras. Prevalecem as incertezas – incertezas que se demonstram em elucubrações ideológicas a respeito da viabilidade do neoliberalismo até em questões mais imediatas ditadas pela conjuntura, como se é este o momento mais adequado para o cidadão comprar ou não um liquidificador novo à prestação na loja da esquina.

De fato, o que se vê nos dois hemisférios é a batalha dos governos e das grandes instituições financeiras, das grandes corporações industriais e comerciais buscando tábuas de salvação, mas as que encontraram até agora não as tem oferecido perspectivas seguras de que estão livres do naufrágio. Uma das evidências mais emblemáticas de que têm sido até agora infrutíferos os esforços para conter a crise é o pacote de US$ 700 bilhões – que agora será acrescido de outros US$ 150 bilhões – que o governo norte-americano lançou para socorrer bancos insolventes e cidadãos afundados em hipotecas.

Na Europa, os bancos centrais dos países que constituem a comunidade econômica tomam igualmente medidas isoladas e de cunho paliativo, sem resultados até agora visíveis. As ações das grandes companhias continuam virando pó, enquanto começam a ser sentidos os primeiros sinais de que há uma recessão à vista, de tamanho e duração imprevisíveis.

E o Brasil? De início, a crise era um problema apenas do "companheiro Bush", mas não demorou quase nada para que, felizmente, o realismo substituísse o discurso de palanque que procurava cantar uma suposta segurança e intangibilidade da economia brasileira. Hoje já se nota a sofreguidão com que as autoridades responsáveis pela condução da política econômica do país buscam meios para evitar que a "crise do companheiro Bush" faça estragos maiores do que aqueles que provocou até agora, em tão poucas semanas.

De fato, o Brasil já reuniu os componentes críticos suficientes para que sua economia se desorganize. O dólar bateu ontem em R$ 2,45 – cotação que, em princípio, poderia animar os exportadores, principalmente os de commodities agrícolas e minerais, não fosse a paralisia dos mercados compradores e a conseqüente desvalorização dos preços finais. Igualmente péssima notícia para os endividados em moeda estrangeira ou dependentes de importações.

As vultosas reservas internacionais do Brasil, da ordem de US$ 200 bilhões, começaram a ser usadas pelo governo para abastecer a oferta de dólares e, desta forma, evitar a forte desvalorização do real. Os bancos foram desobrigados a recolher ao Banco Central boa parte dos seus depósitos à vista, o que, em tese, lhes dá folga para continuar emprestando. Ainda assim, o crédito escasseia ou se torna mais seletivo e os juros sobem – sinais de que o consumo interno (até agora principal mola do crescimento) tende a cair e a produção industrial a despencar, com as funestas conseqüências de praxe: desemprego, redução da renda das famílias, comprometimento das metas de crescimento econômico para os próximos tempos.

A "crise do companheiro Bush" é, portanto, também nossa, pois cabe-nos administrar a parte do latifúndio que nos compete – o que tem sido feito, na análise dos especialistas, de modo consistente e adequado. Entretanto, sobretudo porque o vendaval que sopra do mundo desenvolvido pode tomar direções erráticas e insondáveis é especialmente danoso para os países emergentes, continua prevalecendo aqui esse insustentável peso da incerteza.

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