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Embora os erros de pesquisas de opinião costumem gerar polêmica ao fim de cada período eleitoral no Brasil, elas não podem ser simplesmente desqualificadas por causa de suas eventuais imprecisões ou, mesmo, banidas como sugerem certos políticos e especialistas. Pesquisas não são infalíveis. Tendem apenas a registrar as intenções de voto das pessoas em determinado momento. Apesar de algumas limitações de ordem metodológica que possam existir, devem ser encaradas como informação complementar aos eleitores, útil para se vislumbrar o cenário eleitoral do instante em que foi realizada a pesquisa. O entendimento da Gazeta do Povo é que, para o eleitor decidir o voto, há fatores muito mais relevantes que pesquisas eleitorais a serem observados pelos cidadãos.

Não por outro motivo que a Gazeta lançou neste ano a campanha Voto Consciente. Em vez de se dar uma importância demasiada a pesquisas eleitorais, mais importante é conhecer a vida pregressa do candidato, sua atuação junto à sociedade ou em mandatos eletivos anteriores, as ideias que defendem e o discurso que apresentam aos eleitores, pois são fatores como esses que fazem do voto um instrumento para a transformação da sociedade. Essas são as verdadeiras diretrizes que devem pautar os eleitores para a escolha de seus candidatos.

Justamente por ter esse entendimento, é que a Gazeta não publica resultados de pesquisas eleitorais como manchete de capa. Evita-se dar destaque excessivo para informação que se considera de caráter meramente complementar, pois resultados de pesquisas eleitorais não são a principal fonte de informações para um voto consciente.

A polêmica que se faz a respeito dos erros de pesquisas eleitorais na previsão de resultados é recorrente no Brasil. Já aconteceu na eleição de 2006 e em outras. Contudo, as críticas precisam ser relativizadas, pois, como já exposto, pesquisas não são infalíveis e acabam por registrar as intenções de um dado momento. Apresentam tendências do eleitorado. Entretanto, as discrepâncias entre resultados eleitorais e pesquisas realizadas em períodos muito próximos ao de votações sugerem que há espaço para que sejam aprimoradas.

As discussões levantadas a respeito das imprecisões de pesquisas eleitorais têm dois aspectos que merecem especial atenção. O primeiro deles trata-se do uso feito pelos candidatos. De nosso ponto de vista, não é razoável o uso de pesquisas eleitorais em horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão. Esses espaços que a lei abre aos partidos e aos candidatos na programação das emissoras foram instituídos para que os eleitores – até mesmo aqueles que vivem nos mais longínquos rincões do país – possam se informar a respeito das ideias e propostas dos candidatos a cargos públicos. Esses espaços de programação gratuita, instituídos por lei, foram criados para proporcionar informação ao eleitor. Os candidatos não podem desvirtuá-lo a seu bel-prazer.

Se a intenção é meramente de persuadir os eleitores, seja com pesquisas eleitorais, seja com ações de marketing, o mais apropriado é que se compre espaço na grade de programação ou, então, se use de outros meios de comunicação. O horário eleitoral tem de ser respeitado para que cumpra a função para o qual foi criado: a de dar subsídios suficientes ao eleitor para que possa decidir pelos seus candidatos de forma consciente. A proibição de veiculação de pesquisas no horário eleitoral gratuito, por essas razões, seria uma medida adequada.

O segundo aspecto a ser considerado trata-se da ausência de uma cultura consolidada acerca das pesquisas e seus métodos. Inexiste hoje um debate a esse respeito. Falta conhecimento tanto da população, quanto de políticos, especialistas e formadores de opinião sobre o assunto. Quanto mais aberta for a discussão metodológica e quanto mais as pesquisas se tornarem compreensíveis para as pessoas, menores serão os questionamentos a respeito dos resultados que apresentam, pois as limitações dos levantamentos realizados poderão ser mais bem compreendidas, desmistificando o entendimento de que pesquisas são oráculos infalíveis ou poderosos mecanismos de persuasão do eleitorado.

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