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O segundo debate entre os candidatos à Presidência da República, ocorrido no fim da tarde de quinta-feira, surpreendeu até mesmo os correligionários de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) pela agressividade demonstrada nas perguntas e respostas. Evocaram-se os mortos (como Sérgio Guerra, ex-presidente do PSDB que, segundo a delação premiada de Paulo Roberto Costa, teria recebido propina da Petrobras para barrar uma CPI) e escândalos da vida pessoal (como no caso em que Aécio se recusou a fazer um teste de bafômetro).

Era esperado que, no segundo turno, Dilma e Aécio partissem para um confronto mais aberto, depois de um primeiro turno em que o excesso de candidatos fazia com que os debates se tornassem uma festa de perguntas inócuas e de nanicos que ou serviam de escada para os favoritos, ou atuavam como franco-atiradores contra outros adversários. Mas o que temos visto, com algumas exceções durante as quais realmente se discutem os projetos dos candidatos para o país, é a repetição incessante de umas poucas acusações – embora, sim, a corrupção seja um tema importantíssimo, e os sucessivos escândalos são indicadores inequívocos da maneira como um grupo se porta no poder – e uma metralhadora giratória de dados e números lançados às vezes sem o menor compromisso com a realidade. Como o valioso trabalho de checagem feito pela imprensa nem sempre alcança todos os que assistiram aos debates, muitas vezes a mentira acaba passando como verdade.

Um fator que poderia ter elevado um pouco o nível da discussão seria a permissão para perguntas feitas por jornalistas, e não apenas pelos dois candidatos. Essa participação poderia ajudar a levar a discussão para temas importantes que os candidatos estivessem negligenciando ao longo do evento. No caso do debate de quinta-feira, as duas campanhas haviam inicialmente se manifestado contrárias a essas perguntas. Depois, a de Aécio cedeu, mas a de Dilma insistiu em recusar questões de jornalistas, o que levou o jornal Folha de S.Paulo a desistir de participar do debate, feito em parceria entre o SBT, o portal UOL e a rádio Jovem Pan.

Das reações ao debate de quinta-feira, uma das piores – se não a pior – foi a do ex-presidente Lula, que resolveu dar sua opinião lançando a cartada do gênero: "Quando vejo um homem na televisão ser ignorante com uma mulher, como ele [Aécio] tem sido nos debates, eu fico pensando: se esse cidadão é capaz de gritar com a presidente, fico imaginando o dia que ele encontrar um pobre na frente", disse em Manaus. Curiosamente, Lula não disse uma palavra quando a máquina de marketing petista triturou outra mulher, Marina Silva, com terrorismo eleitoral. E talvez a própria Dilma tenha algo a ensinar a seu mentor político, pois ainda antes do primeiro turno ela disse, comentando justamente um desabafo emocionado de Marina, que "se a pessoa não quer ser pressionada, não quer ser criticada, não quer que falem dela, não dá para ser presidente da República (...) Acho que, [para] ser presidente, a gente tem de aguentar a barra". Claro que seria preferível um debate mais elevado que o que estamos presenciando; mas apelar ao vitimismo depois de ter feito essa defesa enfática de uma postura "durona" não passa do cinismo mais descarado.

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