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Um dos grandes entraves ao desenvolvimento brasileiro está diretamente vinculado à escassez da poupança interna que, em outras palavras, significa que há pouco dinheiro disponível a juro baixo para financiar projetos que induzam o crescimento econômico, privilegiem a inovação tecnológica, gerem emprego e melhorem os índices sociais. Sendo tão escassos os recursos, o melhor a fazer é definir com muito critério as prioridades de aplicação, principalmente quando se trata de dinheiro público.

Essa é a questão que está claramente implícita na polêmica que envolve a destinação de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para viabilizar a fusão de dois gigantes do ramo supermercadista – o brasileiro Pão de Açúcar com o francês Carrefour. O que é preciso refletir a respeito dessa operação é se o banco oficial (portanto, o próprio governo) está atendendo à premissa de que seus recursos serão mesmo empregados em favor do país e não em favor exclusivo das empresas, que, suplementarmente, terão o benefício do juro subsidiado que não encontrariam nos bancos privados.

Definitivamente, não nos parece. Não há nenhuma garantia de que a junção dos dois conglomerados sob uma única bandeira possa representar avanços significativos. Não há agregação de tecnologia; não há abertura de mercados e oportunidades comerciais; não há segurança quanto à multiplicação de empregos (aliás, a tendência seria reduzi-los); não há perspectivas de aumento de arrecadação tributária. Não há investimentos diretos e suplementares na economia brasileira – muito ao contrário, a poupança interna será transferida para a França.

Há de se levar em conta também os perigos representados pela concentração do mercado varejista de produtos de consumo popular nas mãos de tão poucos. Reduz-se a concorrência e se estimula o controle abusivo do mercado. No processo de fusão, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deve analisar tal concentração de mercado. Mas, antes disso, os critérios para investimento da instituição pública de financiamento devem ser deixados claros. É estratégico para o país investir em grandes players internacionais? Mesmo se analisada somente a estratégia financeira, em um negócio que pode ser questionado judicialmente pelo grupo francês Casino, atual sócio do Pão de Açúcar, parece, no mínimo, arriscado.

Qual o melhor papel que o BNDES deveria representar para os brasileiros? Do banco que inscreve no próprio nome a finalidade de incrementar o desenvolvimento econômico e social seria de se esperar que seus recursos fossem aplicados, por exemplo, na batalha que o país precisa vencer para superar os graves gargalos logísticos com que se defronta. Que servissem para estimular a inovação e a melhor aproveitar o potencial produtivo dos empreendedores nacionais.

Diante dessas realidades, o governo e o BNDES têm o dever de esclarecer o motivo dessa operação para convencer a opinião pública de que destinar R$ 4,5 bilhões para aumentar o gigantismo das duas redes supermercadistas é um bom negócio para o país.

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