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Dos méritos do Exame Nacional do Ensino Médio – o Enem, cabe destacar o clima de final de campeonato que estabeleceu no país. Em se tratando de um evento da educação, e não de uma semana de moda, é motivo para soltar fogos no parque da cidade. Afinal, ver estampados nos jornais nomes e notas de escolas técnicas e de grupões do passado, ao lado de supercolégios particulares, não deixa de ser um desejo sonhado, uma anarquia reprimida desde o sucateamento do ensino público, na década de 1960.

A importância conquistada pelo exame, inclusive, substitui aos poucos a liturgia dos vestibulares das universidades federais e estaduais, com a vantagem de ser mais democrático. Não por acaso, o Enem herda alguns tiques da "grande prova dos calouros". Iniciado desde 1998, está sempre à espreita de se tornar um instrumento de propaganda das escolas pagas, mal do qual o governo tenta se prevenir, sem muito sucesso.

A mercantilização do Enem, como de resto o Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico, o Ideb, outra coisa não faz senão tirar o foco do objetivo para os quais foram criados. Sobre isso, muito se tem falado. As avaliações nasceram para gerar indicativos de melhoras e gerar avanços nas práticas pedagógicas, políticas e... É bom que a sociedade reaja, mantendo a integridade de um instrumento mais do que necessário. Raro encontrar quem discorde disso. Tem-se aí um raro consenso. E mesmo assim...

A colocação do Paraná no ranking – palavra que desafia o espírito da prova e insiste em se impor – causou mal-estar à sombra dos pinheirais. O oitavo lugar – paripassu com Mato Grosso do Sul e atrás do Distrito Federal, Rio de janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina e Goiás – soa como uma derrota para uma das maiores economias do país, posto que se faz uma relação instantânea entre riqueza e as glórias do conhecimento.

São situações correlatas de fato, mas nesse quesito o Paraná guarda suas particularidades. Não seria pedir demais que o Enem ajudasse a pensá-las. A região metropolitana concentra cerca de 30% da população do estado, dinheiro e uma pá de problemas. São 500 mil sem teto e cerca de 40% das pessoas com escolaridade abaixo de oito anos de estudo. Caso se somem a esse quadro os índices de analfabetismo funcional, com média de 70% na população adulta brasileira, o quadro piora.

Nascidos em famílias de escolarização sofrível, não causa espanto que muitas alunos de nossas escolas públicas roam o osso na hora do Enem. Não estão sozinhos. No restante do Paraná a situação empalidece, por seus próprios motivos. Com pelo menos metade das cidades somando menos de 10 mil habitantes, o estado se alinha nas piores estatísticas: cidade muito pequena tende a ter ensino médio deficitário, pois enfrenta dificuldade crônica em manter um quadro de professores razoável para esta etapa do ensino.

Não se trata de um diagnóstico novo. Nem absoluto. Há boas notícias por aí. A ainda inédita pesquisa Retratos da Leitura no Paraná, capitaneada pelo empresário Marcelo Almeida, aponta um letramento satisfatório no Noroeste do estado, justo a região onde o combate à pobreza – verificada pelo Ipardes – mais avançou. Qualquer um que lide com educação sabe que é uma química instantânea entre melhoras na sala de aula e desenvolvimento. Mas, como se vê no quadro geral, nem sempre a ordem dos fatores não altera o produto.

Se a oitava colocação – que não é de todo uma tragédia – servir de alguma lição, que seja para os pesquisadores e governos arquitetarem políticas educacionais adequadas. O Paraná é agrícola. Metade da população das pequenas cidades mora no campo. Não se pode imaginar um escola convencional para esse público. Nossa região metropolitana é um campo de guerra. Nossos jovens desfrutam de poucos exemplos positivos que os estimulem a estudar. Uma educação sob medida para tempos de cólera social pode e deve sair dos círculos educacionais. Melhoraria a nota de todo mundo.

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