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Como é peculiar ao seu comportamento, o governador Roberto Requião excedeu-se novamente anteontem ao presidir a sessão semanal da Escola de Governo. Desta feita, usou – como também lhe é peculiar – a tortuosa fórmula de, diante de uma acusação que se imputa contra sua pessoa, defender-se com acusação ainda mais grave, agredindo os bons costumes, a ética e a indispensável liturgia a que está obrigado no exercício das altas responsabilidades do mandato que o povo lhe outorgou.

A título de explicação quanto à notificação judicial que acabara de receber para comparecer perante o Juízo da 6.ª Vara Cível de Curitiba no próximo dia 26, onde responde à acusação de calúnia em processo que lhe move uma jornalista, acabou por referir-se a um episódio de existência não comprovada para atacar indiscriminadamente a honra de várias pessoas – dentre as quais uma que sequer pode se defender, como é o caso do ex-governador José Richa, falecido em 2003.

Na explanação, disse que a origem da questão foram as suspeitas que levantou a respeito da liberação de pagamento, supostamente indevido, a uma empreiteira de obras públicas. Até aí, nada a opor à conduta de S. Exa., que, como governador, deve mesmo zelar pelo dinheiro do contribuinte. Por isso, agiu corretamente ao tentar esclarecer os fatos na Justiça e tentar o ressarcimento que considera necessário.

O problema, no entanto, não é este, mas a acusação que S. Exa. fez quanto ao destino que teria tomado o dinheiro. E aí sim cometeu a imprudência de, sem provas fáticas e cabais a apresentar, como convém à preservação da estatura moral de um governante, insinuar o comprometimento de terceiros com crimes graves, tais como tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha e outros.

É lamentável que S. Exa. mantenha com tanta persistência comportamento desse nível. São inumeráveis os casos – nem todos conhecidos da opinião pública – em que o governador do Paraná protagoniza destemperos verbais agressivos aos mais comezinhos princípios de civilidade, intoleráveis num ambiente em que o mínimo que se exige de todos – governantes e governados – é compostura compatível com o mundo civilizado.

S. Exa. costuma embalar seus freqüentes arroubos com a capa da coragem, do destemor, da sinceridade, da autenticidade. Seriam suas manifestações a expressão da virtude que mais pratica, isto é, o acendrado amor pelo interesse público – muito embora sejam absolutamente discutíveis as causas e as formas com que se embrenha na defesa de "interesse público". Até porque é comum aos governantes autoritários – como o foram, por exemplo, Hitler, Stalin, Saddam ou Pol Pot – estabelecerem suas próprias definições de interesse público.

O Paraná nada ganha, apenas perde, com a conduta destemperada e inadequada de seu governador, como o provam os múltiplos acontecimentos conflituosos que colocam em choque e desordenam as relações entre Estado e sociedade; entre governo e agentes econômicos; entre situação e oposição. A cada dia cria-se um novo inimigo, combate-se um novo moinho de vento, desrespeita-se a lei, agride-se a ordem. A cada dia o Paraná mais se aproxima da vanguarda do atraso, guiado pelo mesmo viés ideológico e populista tão em voga nas repúblicas e republiquetas ressurgidas no continente.

O episódio constrangedor da última terça-feira é apenas mais um sintoma desse quadro.

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