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A petição que chegou a 1,5 milhão de assinaturas pedindo que Renan Calheiros fosse afastado da presidência do Senado não atingirá o objetivo proposto; mesmo assim, a ação popular é um sinal encorajador e mostrou que pode provocar pelo menos algumas pequenas mudanças

A eleição de Renan Calheiros (PMDB) para a presidência do Senado despertou uma reação inusitada de parte da sociedade – mais de 1,5 milhão de internautas firmaram um abaixo-assinado virtual pedindo o afastamento de Calheiros. Tudo começou com um cidadão de 26 anos, Emiliano Magalhães, que utilizou um aplicativo de internet da organização não governamental Avaaz que permite realizar petições virtuais.

Há quem considere a mobilização um modismo das redes sociais. Isso porque o objetivo central do manifesto – o pedido de impeach­ment de Calheiros – dificilmente ocorrerá, apesar de ter sido assinado por 1,5 milhão de pessoas. Há uma série de obstáculos para isso. Em primeiro lugar, o manifesto não tem poder executivo, o que o impede de ter algum efeito prático. Em segundo lugar, é muito difícil que os senadores aceitem, neste momento, promover um processo de cassação contra Renan Calheiros por causa de um abaixo-assinado – até porque foram eles próprios que elegeram o peemedebista para a presidência da Casa.

Mesmo que não cumpra o objetivo a que se propõe, a mobilização virtual não pode ser menosprezada. A magnitude do abaixo-assinado mostra que há uma parcela da população que acompanha de perto a arena pública nacional e que está propensa a ter uma participação ativa nas discussões relevantes para o país. Esse interesse em participar e influir nos rumos da nação tem de ser enaltecido.

No campo simbólico, o abaixo-assinado revelou ser um sucesso de magnitude inesperada. Foi tamanho o constrangimento de Renan Calheiros com a reação da sociedade que o senador não teve como deixar de comentar a manifestação virtual por meio de uma nota. No dia 15 de fevereiro, Calheiros admitiu que o movimento contrário à sua permanência no Senado era "lícito e saudável". Preferiu, entretanto, reduzir a importância do abaixo-assinado: "O número de assinaturas não é tão importante quanto a mensagem, o que importa é saber que a sociedade quer um Congresso mais ágil e preocupado com os problemas dos cidadãos. E assim o será", prometeu na nota.

Mas a manifestação popular não surtiu efeitos meramente no plano das ideias. Analistas consideram que justamente a pressão do movimento anticorrupção para que o senador deixe o cargo é que foi o catalisador do anúncio de mudanças na administração do Senado. Na terça-feira, Calheiros anunciou uma reforma administrativa que, segundo o senador, vai resultar em economia de R$ 262 milhões por ano nas despesas da Casa. Haverá também corte de cerca de 500 cargos comissionados e o aumento da jornada no Senado – de seis para sete horas diárias, o que deve contribuir para a redução de horas extras pagas pela Casa. Se Renan Calheiros irá cumprir com o que anunciou, é outra história. As promessas do peemedebista terão de ser cobradas de perto pela sociedade.

A mobilização culminou ontem, com representantes do movimento anticorrupção fazendo a entrega simbólica do 1,5 milhão de assinaturas para alguns senadores. As novas formas de protesto organizadas pela internet estão dando os primeiros passos para concretizar seus objetivos no mundo real. Por enquanto há mais barulho que efetividade. Mas, aos poucos, os cidadãos começam a provar que a atuação política não se restringe ao voto. E que a internet se tornou uma aliada para o controle social do comportamento político vigente.

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