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Que a ética na política é uma prática cada vez mais em desuso por parte dos nossos homens públicos é realidade que salta aos olhos. Se mudar essa verdade incômoda é uma necessidade premente, uma cartada decisiva ocorrerá em 2012 com o julgamento, no Supremo Tribunal Federal, do processo do mensalão. Tido e havido como o maior escândalo da história republicana brasileira, o caso foi uma bem-arquitetada trama urdida para garantir apoio político ao presidente Lula na sua primeira gestão. Em troca, os parlamentares da base de apoio do governo eram aquinhoados com polpudas mesadas mensais, dinheiro proveniente de acertos espúrios entre políticos, banqueiros e publicitários.

A extensão do golpe pode ser avaliada pelas palavras do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que na denúncia contra 38 envolvidos qualificou o mensalão como "a mais grave agressão aos valores democráticos que se possa conceber". Disse mais o procurador ao afirmar que "no momento em que a consciência do representante eleito pelo povo é corrompida em razão do recebimento de dinheiro, a base do regime democrático é irremediavelmente ameaçada".

O caso ganha contornos mais graves quando se sabe do envolvimento direto de figuras próximas do núcleo do poder petista, a começar pelo ex-ministro José Dirceu, que sem meias palavras foi qualificado por Gurgel como "o chefe da quadrilha". Além dele, ou­­tros companheiros como Delúbio Soares, José Genoino, João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson, ao lado dos publicitários Marcos Valério e Duda Mendonça, estão no rol dos implicados.

Com a proximidade do início do julgamento previsto para meados de abril, todas as atenções se voltam para o STF diante dos interesses em jogo. Interesses que misturam de um lado as pressões de bastidores para desqualificar os reais propósitos do mensalão e, de outro, a expectativa que tem a sociedade de que a punição dos culpados possa sinalizar novos rumos para a política brasileira. Os recentes casos de corrupção envolvendo ministros do governo Dilma Rousseff atestam de forma cristalina a necessidade de se instalar um novo patamar de moralidade para os gestores da máquina oficial. Uma realidade que passa inevitavelmente pelo julgamento do mensalão pelo que simbolizará expurgar da vida pública aqueles que proliferam em torno do poder apenas para tirar vantagem de cargos e posições.

Por tudo isso, é de fundamental importância que o Supremo leve a cabo a apreciação do caso a tempo de evitar que ocorra a prescrição de algumas penas, como chegou a aventar o ministro Ricardo Lewandowski dias atrás. Retardar o julgamento para que só termine em 2013 é tudo o que sonham os implicados. Para tanto, insistem no mantra de que toda a dinheirama que envolveu partidos políticos, parlamentares, publicitários e bancos para a compra de apoio ao governo Lula não passou mesmo de um mero problema de caixa 2 de campanha. Nesse esforço, até mesmo o ex-presidente Lula, reiteradas vezes, chegou a negar a existência do mensalão, qualificando-o como "fraude" que nunca existiu e que pretendia desmascarar quando deixasse o governo. Deixou o governo, sem mais tocar no assunto. Assunto que caberá ao STF dar a última palavra, o que se espera ocorra segundo as expectativas dos cidadãos que cobram dos homens públicos comportamento probo e voltado para os interesses da sociedade. Dependendo do resultado, o julgamento do mensalão sinalizará o caminho que o país pretende seguir.

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