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A morte do terrorista Osama bin Laden, resultado de bem-sucedida operação militar no Paquistão por um grupo de elite da Marinha dos Estados Unidos, ganhou as manchetes de todo o mundo nos últimos dias. Pelos lados da Casa Branca, o fim da caçada de quase dez anos ao mentor do atentado às torres gêmeas do World Trade Center vem sendo habilmente contabilizado politicamente pelo presidente Barack Obama. Os ganhos já começam pelo aumento de popularidade apontado pelas pesquisas de opinião, consolidando ainda mais a sua condição de favorito a um novo mandato presidencial. E Obama não vem titubeando em tirar proveito do episódio, com declarações de efeito tais como "o país não esqueceu o pior atentado de sua história" ou "o mundo ficou mais seguro sem Bin Laden". A postura presidencial reflete o sentimento, misto de euforia e patriotismo, que passou a dominar os norte-americanos com o fim do saudita. É a sensação da alma lavada de uma nação, depois de quase uma década de expectativa por justiça pelos ataques desferidos contra o coração da América e que deixaram perto de 3 mil mortos.

Superado o impacto da notícia, as atenções derivam para o porvir da eliminação do proclamado inimigo público número 1 do país. Inicialmente, é preciso separar a morte do fundador da Al-Qaeda da continuidade do terrorismo que grassa de forma alarmante e se constitui hoje em funesta ameaça em praticamente todo o planeta. Nesse caso, nada autoriza que a execução de Bin Laden venha a representar um golpe fatal nas ações extremistas como se gostaria. Pulverizados, esses grupos se encontram hoje baseados principalmente no Norte da África, na Península Arábica, notadamente no Iêmen, na Somália, Paquistão, Iraque e Afeganistão, onde recrutam e treinam suas forças. Representam diferentes facções fundamentalistas e agem com total independência segundo a vontade de seus líderes regionais. Para eles, Bin Laden não representava mais um líder de campo, mas um símbolo de luta cuja morte só faz acirrar o ódio, principalmente aos Estados Unidos e aos países mais diretamente alinhados, como a Inglaterra. Por tudo isso, diferentemente do que disse Obama, e os organismos de inteligência dos Estados Unidos sabem muito bem disso, o mundo não ficará mais seguro sem Bin Laden. Pelo contrário, o preço a pagar será o inevitável aumento das medidas de segurança contra novos atentados já prometidos como forma de vingar a morte do terrorista saudita.

Desde o atentado ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, a questão do terrorismo passou a ser vista de outra forma. Um inimigo que não tem rosto e faz da surpresa o principal elemento para atingir os seus objetivos mostrou que nenhum país, por mais forte que seja militar ou tecnologicamente, está imune a um ataque de proporções. Os protocolos antiterror mudaram radicalmente por todo o mundo, com a neurose por segurança passando a prevalecer em nome da prevenção à ação dos radicais dispostos a sacrificar até a própria vida na busca de seus objetivos. Nada disso, porém, traz a garantia de que novas ações de proporções não serão cometidas.

Diante dessa realidade, cabe a indagação se é possível acabar com o terrorismo. Uma pergunta difícil de responder num mundo onde as desigualdades sociais se tornam cada vez mais gritantes e algumas regiões se constituem em verdadeiras bombas-relógio prestes a explodir. Nelas, as células terroristas encontram o ambiente propício ao seu crescimento, alimentado pelo fanatismo religioso que promete o paraíso àqueles que morrerem pela causa. A esse fator se soma a ausência de uma perspectiva de vida digna para milhares de pessoas que vivem hoje em condições praticamente sub-humanas. Para esses enjeitados, explodir uma bomba pode ser visto como a única saída possível.

Se acabar com o terrorismo pode parecer utópico diante de tanta degradação e injustiça social, pelo menos é possível acreditar que com vontade política algumas iniciativas estão ao alcance para aliviar as tensões que levam ao inconformismo e a sua consequente degeneração em atos de terror. No Oriente Médio, região onde o extremismo tem um campo fértil, resolver o problema palestino pode ser o primeiro passo nesse sentido, retirando das mãos dos radicais um dos principais argumentos que é a luta pela criação de um Estado palestino.

Em meio à expectativa de onde e quando acontecerá o próximo ato terrorista de proporções, também não se pode desdenhar da possibilidade de que um dia algum desses grupos tenha acesso a alguma arma de destruição em massa – química, biológica ou mesmo atômica. Esse é o cenário extremo que se espera que nunca ocorra. Para tanto, o combate ao terror não pode simplesmente se limitar à adoção de medidas de segurança. É preciso mais, a começar pela atenção às causas que fomentam esse fenômeno perverso no mundo.

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