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"O Chile amanheceu, ontem, aliviado. Um novo país, mais unido, forte e solidário." Essas expressões do presidente Se­­bastián Piñera não só resumem o estado de espírito de uma nação, mas a expectativa de praticamente todo o mundo que acompanhou com ansiedade e cautela o resgate bem-sucedido dos 33 mineiros que estavam presos há quase setenta dias numa mina de cobre no deserto de Atacama.

Sobrevivendo com rações de leite e atum, nos primeiros 14 dias, eles esperaram com muita fé o resgate, que finalmente chegou. Desde 5 de agosto, quando ficaram confinados em um refúgio, depois de um terrível desabamento nas galerias da mina que bloqueou a saída, a mais de 600 metros de profundidade.

A euforia que tomou conta dos mineiros, de seus familiares e de todo o país não é para menos. A gigantesca operação de resgate, uma das mais difíceis da história da mineração mundial, que envolveu intensamente desde o presidente Piñera até o mais humilde operário que movimentava guindastes, foi extremamente complexa. Numa operação de alto risco, mas impecável, os mineiros foram resgatados, um a um, na diminuta cápsula Fênix, através de um poço de 622 metros de profundidade, escavado na rocha especialmente para esse fim, em uma operação que levou 22 horas.

As repercussões da operação, pelo destaque que a mídia chilena e internacional deram ao assunto, mostram que esses operários anônimos, recordistas mundiais de sobrevivência subterrânea, só podiam se transformar em verdadeiros heróis, quando emergissem sãos e salvos na superfície. Com toda a razão para quem conseguiu sobreviver todo esse período – no calor, no frio, no isolamento, na tristeza. "É incrível que todos tenham saído vivos", exclamou o mineiro Luis Piña, 51 anos, um dos soterrados. De fato, foi assombroso. Ou como definiu o prestigioso diário norte-americano Wall Street Journal, ao se referir à "fórmula de sucesso" do resgate: "75% ciência, 25% milagre".

Qual é a principal lição deste episódio dramático? O acidente deve ser considerado um marco decisivo para se rever a segurança no trabalho das minas não apenas no Chile, mas em todo o mundo. O trabalho nas insalubres galerias subterrâneas é duríssimo e muito perigoso. E nem todas as empresas dão condições razoáveis de segurança para os que labutam nas profundidades.

Nesse aspecto, o presidente chileno, mesmo em meio à euforia que tomou conta do país, deixou bem claro a sua dura linha de ação: aqueles que tiverem responsabilidades no acidente não ficarão impunes. Piñera também prometeu aumentar a fiscalização nas mineradoras e endurecer a legislação do setor. E disse que é impossível o governo dar garantias de que acidentes dessas dimensões possam ser evitados.

O imponderável é o que prevalece quando o homem desafia as forças gigantes da natureza. No entanto, se a legislação não for cada vez mais rigorosa, os riscos continuarão sendo elevados. Acidentes em minas acontecem quase todos os dias. Outros graves casos ocorreram na década e os trabalhadores envolvidos não tiveram a mesma sorte dos chilenos. Exemplos: em agosto 2001, 36 mineiros morreram e 44 ficaram feridos por causa de uma explosão em uma mina no leste da Ucrânia. Em fevereiro de 2005, outros 214 mineiros morreram numa explosão de gás na mina de carvão de Sunjiawan, na província de Liaoning, Noroeste do país. Em janeiro de 2006, mais 12 mineiros presos a 80 metros de profundidade, em um túnel de quase 900 metros de uma mina de carvão na Virgínia Ocidental, nos EUA, acabaram morrendo, antes da chegada do resgate.

Os mineiros chilenos resgatados mostraram o verdadeiro valor da vida humana. Perto disso é muito pouco tudo o que for feito para melhorar as condições de trabalho e de segurança em minas como essa do Atacama, assim como em todas as outras do planeta.

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