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| Foto: Raysa Leite/AFP

O atentado cometido na tarde desta quinta-feira contra Jair Bolsonaro, candidato à Presidência da República pelo PSL, enquanto era carregado pela população na cidade mineira de Juiz de Fora, é também um gravíssimo ataque contra a democracia brasileira. Enquanto o candidato, líder das pesquisas de opinião, se recupera das graves lesões sofridas no ataque, todo o Brasil, que já tinha se chocado com a morte da vereadora carioca Marielle Franco seis meses atrás, precisa pensar em como chegamos a esse ponto e, principalmente, em como seguiremos de agora em diante.

Bolsonaro entra para uma longa série de candidatos e políticos fisicamente agredidos e até assassinados durante a campanha ou no exercício do mandato. O país já viu até mesmo tiroteios no Congresso Nacional: José Kairala morreu baleado no plenário do Senado, em meio à rixa entre os alagoanos Arnon de Mello e Silvestre Péricles, em 1963. Muito mais frequentes são as mortes durante o período eleitoral – durante a campanha de 2016, segundo o site Congresso em Foco, houve pelo menos 20 mortes de candidatos a prefeito e vereador. Isso mostra a extensão da doença que acomete a política nacional, e que agora já não poupa nem mesmo os postulantes ao cargo máximo da República.

Raciocínios como “ele colheu o que plantou” são abjetos e não deveriam ter lugar

Se já são suficientemente indecorosos os gracejos que misturam o crime, cometido com uma faca, à plataforma do candidato sobre o desarmamento, pior ainda será qualquer tentativa de relativização em um momento como este. Não é possível recorrer ao clima de polarização para racionalizar uma tentativa de assassinato, e não existe – ou pelo menos não deveria existir – “ele colheu o que plantou”, aquele raciocínio abjeto que faz da vítima a principal responsável pela agressão sofrida, comportamento que tanto repudiamos quando se trata de outros tipos de crimes.

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A reação dos demais candidatos foi imediata e de solidariedade, o que é preciso elogiar – seria de enorme insensibilidade calar sobre o fato apenas por se tratar de um adversário político e ideológico. Mas o que isso nos diz sobre como a campanha presidencial continuará neste mês que nos separa do dia da eleição? A militância tende a se exaltar ainda mais, e justamente por isso está na mão dos candidatos tomar as rédeas para fazer da disputa aquilo que ela deveria ser: um debate de propostas, não um festival de ataques gratuitos.

Se a solidariedade for apenas momentânea na hora mais aguda, mas desaparecer assim que Bolsonaro se recupere, dando lugar ao vale-tudo habitual, teremos perdido a oportunidade de entender, de uma vez por todas, que política não é guerra. Adversários a derrotar não são inimigos a eliminar, e o confronto se dá no campo das ideias, combatidas com outras ideias. O brasileiro quer se envolver na discussão sobre programas para o país, não em uma batalha campal. Ainda há tempo para transformar a campanha de 2018.

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