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Já não há dúvida de que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá, em 2014, menos que 1%. O boletim Focus, do Banco Central (BC), aponta para crescimento de apenas 0,7% no ano. Esse resultado é muito fraco e é péssimo em todos os aspectos, sobretudo por ser inferior ao crescimento da população – que, segundo o IBGE, atingiu 202,7 milhões em junho deste ano e cresceu 0,86% em relação ao ano passado. Com a população crescendo mais que o PIB, a fatia média de cada habitante se reduz, a sociedade torna-se mais pobre e o desenvolvimento social fica prejudicado.

Após a divulgação dos resultados econômicos do segundo trimestre, segundo os quais o Brasil está tecnicamente em recessão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou que as causas do fraco desempenho são o cenário internacional fraco, a seca e a Copa do Mundo. O mercado parece não ter dado atenção às declarações do ministro, pois não é de hoje que suas falas e previsões são recebidas com descrédito pelos agentes econômicos. Embora seja papel do governo incentivar e propagar otimismo, as previsões exageradas do ministro e a insistência em negar as dificuldades levaram o mercado a não acreditar mais em suas análises e estimativas. É lamentável, pois, se a credibilidade da mais alta autoridade econômica é corroída, perde o governo e perde o país.

O ministro também declarou que o crescimento em 2015 será de 3%. Isso pode até ocorrer, mas os investidores, os empresários e os analistas já não veem a fala ministerial como fonte confiável para a obtenção de informações necessárias ao planejamento de seus negócios e à tomada de decisões. Admitindo que as explicações sejam pelo menos parcialmente verdadeiras, cabe perguntar se os fatores citados pelo ministro como causadores do baixo crescimento serão removidos ou não. Se não forem, fica a questão: como a economia brasileira irá se recuperar?

A Copa do Mundo não se repetirá; portanto, não terá mais efeito negativo sobre o PIB (qualquer que tenha sido o tamanho desse efeito). Sobre esse ponto, trata-se de mais uma previsão ufanista errada que, no campo econômico, saiu totalmente adversa em relação ao que diziam Lula, Dilma e demais autoridades governamentais. A despeito de apresentar aspectos positivos, que já comentamos neste espaço, a Copa do Mundo foi ruim para o crescimento da produção nacional. E quem diz isso são os analistas da Fundação Getulio Vargas, que balizam suas afirmações em estudos e pesquisas.

O ministro da Fazenda citou, também, a Argentina como uma das causas do baixo PIB brasileiro. Como o país vizinho parece viver uma crise eterna, as exportações brasileiras direcionadas para aquele mercado acabaram sofrendo redução e devem continuar assim. O Brasil não pode esperar muito da expansão econômica da Argentina, sobretudo em 2015, pois não há perspectivas de recuperação de sua economia, excessivamente protecionista e intervencionista. Quanto ao mercado internacional, não houve retração geral e muitos países vêm tendo bom desempenho. Logo, os efeitos da demanda do mercado internacional sobre produtos brasileiros não foram tão dramáticos quanto o governo quer fazer crer. É verdade que a demanda mundial não voltou aos níveis dos tempos de expansão, sobretudo da China. Por fim, quanto à seca, nada há a fazer. Trata-se de fenômeno da natureza que ocorre de tempos em tempos, e continuará ocorrendo e prejudicando a safra agrícola.

Mas, sejam quais forem os efeitos dos fatores externos, as causas principais do mau desempenho do PIB são internas, entre as quais estão a carga tributária elevada e confusa, os déficits nas contas públicas, o represamento de preços administrados, a inflação no teto da meta e a falta de reformas microeconômicas.

Com a população ainda crescendo a taxas próximas de 1%, a renda por habitante na faixa dos US$ 11 mil/ano e a carga tributária chegando próxima a 40% da renda nacional, o Brasil precisa de expressiva elevação do PIB caso queira, em duas décadas, melhorar o padrão médio de bem-estar social de sua população, zerar o número de pessoas na faixa dos extremamente pobres (hoje são 7% da população) e reduzir o grupo na faixa dos pobres para 5% (hoje são 20% da população). O crescimento não é um luxo. É uma necessidade, e deve ser prioridade de qualquer governante.

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