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O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, já encontrou o grande culpado pela tragédia que se abateu sobre a região serrana do estado nos últimos dias, em razão do deslizamento de terras, o maior já ocorrido no Brasil. Ao sobrevoar as áreas mais atingidas em companhia da presidente Dilma Rousseff, Cabral apontou as ocupações irregulares como responsáveis pelo fenômeno que já deixou mais de 530 mortos e centenas de pessoas desaparecidas. Seguindo a cartilha de todo bom político, o governador não titubeou em rapidamente buscar explicações e justificativas para o drama, esquecendo-se de assumir parcela de culpa no episódio como chefe do Executivo.

Há quatro anos à frente do governo do estado e reeleito para mais quatro, Cabral limitou-se a repetir o que já havia declarado um ano atrás, quando houve os igualmente trágicos deslizamentos de terra em Angra dos Reis e no Morro do Bumba, em Niterói: o vilão do problema são mesmo as ocupações que proliferam nas encostas dos morros. Não poderia ser mais óbvio o governador fluminense em suas palavras. Afinal, não é de hoje que especialistas alertam para os perigos que o povoamento desordenado das encostas de morros, fundos de vale e margens de rios, com a inevitável perda da cobertura verde, compromete o solo e facilita os deslizamentos e inundações; também não é de hoje que a cada início de ano ocorrem chuvas torrenciais, em particular na Região Sudeste, trazendo com elas a destruição e as mortes. Mas pergunta-se ao governador Sérgio Cabral: o que foi feito em sua administração para prevenir a repetição dessas catástrofes? Pouco ou quase nada pelo que se depreende das ocorrências dos últimos dias.

A hora é de um basta! Não podem ser mais toleradas as velhas e esfarrapadas desculpas para justificar a incúria dos administradores públicos diante de tanta tragédia anunciada. Não é mais possível aceitar a cômoda situação de esperar pelo pior para só depois agir. Até quando centenas de vidas terão de ser ceifadas para que ações efetivas de prevenção sejam tomadas, de forma a se por um paradeiro nesse recorrente espetáculo anual de horror derivado das chuvas?

No Congresso Nacional, cujos integrantes foram rápidos em aprovar um aumento de mais de 65% em seus vencimentos, dormem à espera da boa vontade para a apreciação e votação inúmeros projetos voltados para minimizar os efeitos das enchentes. As propostas vão desde incentivos fiscais a quem doa recursos às vítimas de enchentes, à prioridade aos flagelados nos programas habitacionais do governo, passando pela revitalização das áreas atingidas. Enquanto elas não saem do papel, o que se observa é o gasto exponencialmente maior apenas na reparação dos danos causados; simplesmente correr atrás do prejuízo e torcer para que a calamidade não se repita no ano seguinte.

Enquanto a forma de se encarar e enfrentar tais situações for essa, a sina de milhares de brasileiros será mesmo a de conviver com o espectro da tragédia a cada chuva mais forte. Por seu turno, em meio ao choro e desespero das vítimas, os governantes vão continuar ostentando expressão compungida quando das declarações aos jornais e à tevê, limitando-se a percorrer as áreas atingidas e garantindo ajuda aos que ficaram sem nada. Ajuda que, na maioria das vezes, demora a chegar. Isso quando chega...

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