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Depois de 55 anos, o Parolin deixou de ser favela. Decana das ocupações irregulares da capital, a vila plantada na baixada da Rua Brigadeiro Franco não integra mais a Curitiba sem-teto – parcela da cidade da qual fazem parte cerca de 200 mil pessoas. Graças às verbas do PAC – Plano de Aceleração do Crescimento – e dos programas da Cohab-CT, lotes foram legalizados; moradores de área de risco – como a beira do Córrego Guaíra – estão sendo reassentados, 25 becos ganham o benefício do asfalto e da ligação viária e mais de 800 casas devem receber melhorias. Faxina completa.

Até mesmo os índices de violência – que ali se assemelhavam proporcionalmente aos de Bogotá antes da era do prefeito Antanas Mockus – minguaram, comprovando que urbanização e paz andam de mãos dadas. Reportagem da Gazeta do Povo publicada no último domingo aponta que nos últimos seis meses o número de homicídios teve redução de 57%. Com folga, é uma das melhores notícias de segurança pública nos últimos tempos: o Parolin era a nossa Faixa de Gaza.

Assim falando, parece uma invencionice. À revelia dos R$ 38,2 milhões investidos e das 677 moradias populares que estão sendo erguidas na vila – fazendo dela um canteiro de obras – quem passa pela região parece enxergar o mesmo cenário de sempre. A retirada de casebres no entorno do rio amenizou, mas não mudou de todo o aspecto degradante da baixada. Um ano depois de construídas, algumas das primeiras áreas de reassentamento, na Rua Daisy Luci Berno, já estão favelizadas. De quebra, não se pode afirmar que os seis mil moradores da zona pobre do bairro – um dos mais tradicionais de Curitiba – tenham deixado de ser reféns dos traficantes.

Tais considerações não se prestam a desmerecer o empenho do poder público em sanear uma das áreas mais problemáticas da capital. Os projetos municipais e federais são legítimos, de fato e de direito. O perigo são as expectativas algo classe média da população em geral. Regularização não é estetização. O enclave conhecido como Vila Parolin não vai se transformar da noite para o dia num subúrbio com flores na janela, cadeiras na calçada e crianças jogando bolas de gude na esquina. Ou se considera que a vila não é a nossa imagem e semelhança ou se vai olhar pelo retrovisor do carro e achar que foi tudo nuvem passageira.

A dizer. O Parolin de Baixo deixa de integrar a zona irregular, mas não de ser um dos bairros mais pobres de Curitiba, uma república de carrinheiros, de baixa instrução e à mercê da informalidade. Se aos esforços em melhorar as condições de moradia, segurança e de urbanização não forem somados outros, como a geração de renda e a administração do lixo, principal fonte de renda da região, a era PAC pode não passar de uma injeção de Botox.

Para tanto – como admite a própria direção Cohab-CT – é preciso não deixar esmorecer o "pós-PAC", garantia de que a inclusão do Parolin na malha da cidade não acaba com a retirada dos homens e máquinas. Agora é que são elas. Sobre o que se deve fazer na sequência, informações não faltam. As dicas estão nos próprios arquivos da Companhia da Habitação, que em 2006 fez larga pesquisa de porta em porta nos casebres.

O resultado do levantamento é estarrecedor. Nos 240 mil metros quadrados da vila, território de 1.507 famílias, 41% das casas são de madeira – geralmente de baixa qualidade. Apenas 70% dos domicílios têm saneamento adequado – o que os transforma num caso de saúde pública – e metade dos moradores não está quites com a "força e luz". A situação se agrava ao colocar na conta que são cinco décadas de ocupação – longa temporada em que a população teve de esperar para fazer parte da cidade de fato. O tempo legitimou a pobreza. É hora de apurar o tempo.

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