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Dilma Roussef completou 100 dias de Presidência neste domingo. Como tradicionalmente acontece no Brasil e no mundo, movem-se todos os críticos, os admiradores e observadores de plantão para analisar o período. É um tempo considerado suficiente para conhecer o estilo e as pretensões do novo governante. Ou seja, para que o mandatário diga a que veio. Trata-se, porém, de um tempo ainda muito curto para permitir opiniões definitivas, pois é apenas um marco simbólico para iniciarmos a contagem dos 1.360 dias que ainda lhe restam de mandato. Será pelo conjunto de 1.460 dias que separarão o dia da posse do dia do término do mandato que a história registrará o que Dilma, de fato, representou para o País e para o povo que a consagrou nas urnas em outubro de 2010.

Para não fugir à tradição, imaginemos, no entanto, que esses 100 primeiros dias de Dilma já nos sirvam para traçar um perfil do governo que sucedeu ao comandado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já a partir desse ponto, inevitável que as primeiras observações derivem da comparação entre ambos – principalmente quando se leva em conta a expectativa inicial, alimentada sobretudo durante a campanha eleitoral, de que teríamos na nova Presidência a simples continuidade da anterior. A criatura seria fiel ao criador, colocada no mais alto posto da Nação apenas com a missão de "guardar o lugar" para o retorno daquele que foi o mais popular dos presidentes do País.

Se popularidade é um critério válido para análise do período, já se têm os primeiros resultados, medidos pelos institutos de pesquisa: Dilma apresenta índices tão (ou mais) exuberantes quanto aqueles que Lula alcançou nos primeiros dias de seu primeiro mandato. Percebamos, entretanto, que os motivos que um e outro deram para obter suas respectivas taxas de aprovação popular caminham em sentidos opostos, ditados naturalmente pela personalidade e temperamento tão evidentemente díspares que os caracterizam.

É de se pensar, por exemplo, que a popularidade de Dilma se deva ao fato de que, sem denotar qualquer deliberada intenção de distanciar-se criticamente dele, sua atuação pública e administrativa é diferente. Ao contrário de Lula, com sua exagerada expansividade e, sobretudo, loquacidade, Dilma mantém-se discreta, fala tão somente o necessário e dá mostras diárias de que é ela, pessoalmente, quem determina os rumos da política e da administração federal. O sentimento que transmite aos brasileiros é de que, enfim, o País dispõe de um presidente que de fato se dedica à tarefa de governar. Só isso já é notoriamente um fator diferencial altamente positivo.

O relacionamento republicano com os partidos e com o Congresso tem sido outra de suas marcas positivas. Se antes, sob tantas presidências que a antecederam, a rotina era cumprir o lema "é dando que se recebe", sob seu governo observa-se a inversão: "só recebe quem dá". Exemplo cabal desse novo comportamento se configurou já no primeiro desafio político enfrentado pela presidente quando nem ainda havia completado dois meses de mandato. Foi quando da votação do novo salário mínimo, com aumento proposto pelo governo muito abaixo daquele reivindicado pelos trabalhadores. Intentaram os políticos, de situação e oposição, agradar às massas e impor dificuldades ao governo – dificuldades que poderiam, evidentemente, ser superadas caso os cargos e benesses que costumam exigir na divisão do poder lhes fossem concedidos. Dilma paralisou todas as negociações e pôs na mesa, com clareza e rigidez, a sua proposta para o mínimo. Esperou para testar a fidelidade e a seriedade com que se comportariam os partidos e bancadas que formam a sua base.

Nunca antes neste país um presidente se arriscou tanto a ser vencido no Congresso. Mas Dilma passou no teste – e só então tiveram curso as naturais e republicanas negociações para a distribuição de mando político entre os aliados, um processo, aliás, que ainda não terminou.

Dilma devolveu em grande parte a dignidade do cargo que lhe foi conferido. E se há obra importante que se possa realizar em pouco mais de três meses, essa já é suficiente para dar-nos motivo de esperança quanto aos 1.360 dias que faltam.

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