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A esta altura, passado o primeiro mês do ano, as perspectivas para o Brasil se mantêm positivas, apesar de o desempenho anterior não ter sido o esperado. De toda forma, o governo federal se prepara para extrair dividendos eleitorais dos resultados obtidos, num movimento que poderá ter sucesso na medida em que a crise política que devastou a credibilidade de parte da classe dirigente for sendo superada pelo tempo.

Um ditado corrente diz que "política são fatos novos" e até aqui a oposição não conseguiu associar diretamente a pessoa do presidente da República ao escândalo do "mensalão". Enquanto isso, a administração pode servir à opinião pública situações concretas, desde o controle da inflação, quitação da dívida com o FMI até a recuperação do emprego e melhoria da renda do trabalhador. São indicadores que se acumulam a cada semana, significando a retomada, lenta porém consistente: queda do risco-país, elevação do saldo de comércio exterior, valorização das ações em bolsa de valores, etc.

O baixo crescimento incomoda o empresariado e setores mais informados, tendo sido objeto de avaliações negativas durante o último Fórum Econômico Mundial. A comparação com nações mais dinâmicas levantou indagações, sobre por que o Brasil – após exibir um padrão histórico de forte expansão – agora se situa na retaguarda dos demais países emergentes.

A resposta foi dada no próprio Fórum de Davos pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Para o dirigente monetário, a taxa de crescimento deve respeitar dois pontos: a manutenção da política fiscal por vários anos para lograr a redução da relação dívida pública/PIB e o controle da inflação para que o custo dos empreendimentos decline com a queda dos juros. Descartando comparações com a China, Meirelles disse que nosso espelho deve ser o Chile, que após anos de reforma e redução da dívida, hoje exibe uma relação dívida/PIB inferior a 20%.

O problema é que, apesar do pesado superávit primário do ano passado, o Brasil pagou o dobro de juros, não conseguiu reduzir a dívida abaixo de 50% e acumula débito de mais de um trilhão de reais. Não obstante, mesmo com baixo crescimento o real forte é boa estratégia em ano eleitoral: a estabilização de preços passa uma sensação favorável para o consumidor – segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas.

A condução da economia em regime travado foi acusada de neoliberal por militantes esquerdistas reunidos no Fórum de Caracas e o governador petista do Acre, Jorge Viana, reconhece que "o PT sofre a síndrome da eterna oposição", forçando o presidente a mudar o eixo de apoios para agremiações colocadas mais ao centro do espectro político.

Mesmo assim o instituto da reeleição confere vantagem natural ao titular do cargo executivo, que pode concorrer no exercício da função. No caso atual, informa-se que o presidente Lula deve se valer de comparação com o governo anterior para afirmar que "fez mais". À oposição caberá mostrar os pontos frágeis da gestão petista, além de convencer o eleitorado de que o mandato em disputa se refere ao futuro; o passado já foi julgado e não está em questão.

Mário Vargas Llosa, ao perder a corrida presidencial para Alberto Fujimori no Peru, fez a observação amarga de que, numa campanha eleitoral, "a ficção muitas vezes derrota a realidade". Apesar disso, a própria temporada de eleições realimenta a confiança na democracia, pondo diante do cidadão a opção de sustentar a liderança presente ou substituí-la.

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