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O incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), ocorrido no sábado, causou duas mortes e a perda de um valioso material de pesquisa coletado neste verão. Além de avaliar os estragos e a estratégia para a volta da operação do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), será preciso que governo e comunidade científica discutam a necessidade dos investimentos realizados não somente na estação, mas na pesquisa científica das mais diversas áreas.

A estação marca a presença brasileira na Antártida. Em atividade desde 1984, é fruto da visão de futuro pela compreensão da importância estratégica dessa região. O Tratado da Antártida, assinado em 1959 por 12 países – pelo Brasil em 1975 – define que aquele é um continente utilizado de forma pacífica, com uma política de cooperação internacional, facilitação de pesquisas científicas e sempre levando em conta a conservação dos recursos vivos. Um modelo vitorioso de cooperação internacional, que foi realçado no resgate aos ocupantes da estação brasileira.

Seguindo essas regras, grupos de pesquisadores brasileiros vêm se dedicando nesses 30 anos a estudos de grande relevância mundial, como nas áreas de biodiversidade de peixes e aves e de biociência em geral, medidas de ozônio e monitoramentos meteorológicos. Com o incêndio, pesquisadores que atuaram no Proantar reforçam a importância de se modernizar o programa, não somente com a construção de uma nova estação mais segura, mas também com a utilização da estrutura disponível para fins científicos. O número de pessoas, perto de 60, estava acima do ideal, que é de 40. Fora isso, o Navio de Apoio Oceano­gráfico Ary Rongel, essencial às operações no continente gelado, está quebrado há quase dois meses, no Porto de Punta Arenas (Chile). Foi preciso um incidente grave para essas deficiências do programa aparecerem.

Os danos para a atividade científica foram grandes. Estima-se que 70% dos laboratórios e todo o material para estudos recolhido no atual verão austral, e que devia servir de base para pesquisas durante todo o ano, tenham sido destruídos.

Mas o problema crônico da atuação do Brasil na Antártida é a falta de estabilidade orçamentária do Proantar. Nos últimos anos a Presidência da República tem cortado orçamento do Ministério de Ciencia, Tecnologia e Inovação, atingindo todos os programas científicos. Neste ano, por exemplo, o corte feito em fevereiro no orçamento da pasta foi de 23%, com a perda de R$ 1,48 bilhão.

Essa é a grande discussão que deve ser feita após o balanço do fato trágico: o Brasil deve investir em ciência e tecnologia se quiser realmente se firmar como um país desenvolvido. Com o corte orçamentário, a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência alerta para o perigo de o Brasil não conseguir cumprir as metas da Estratégia nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para os anos 2012-2015. É hora de o governo federal entender a necessidade de não somente reconstruir uma nova estação antártica – o que deve durar dois anos – como também voltar a investir fortemente em pesquisa científica e tecnológica. Sabe-se da dificuldade de se manter uma estação em um continente tão isolado e com todas as condições apresentadas. Mas é hora de reafirmar a importância da pesquisa antártica e de todas as instituições científicas que lá desenvolveram atividades ao longo desses 30 anos.

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