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A queda de meio por cento na taxa referencial de juros, decidida pelo Banco Central na noite de quarta-feira, rebaixou a taxa Selic para 12% ao ano. Embora a decisão – antecipada pelos especialistas – tenha sido positiva, é preciso mais; porque ainda assim os juros reais no Brasil continuarão sendo os mais altos do mundo, travando o crescimento e punindo injustamente os agentes produtivos via apreciação cambial e outros efeitos danosos.

É que a inflação recuou para 3% em relação aos últimos 12 meses e, para o ano corrente, as previsões giram em torno de 3,5% a 4,0%, em função de diversos fatores combinados. Com isso, mesmo reduzidos pela decisão desta semana, os juros reais vão girar em torno de 9% ao ano – três vezes mais elevados do que a média ponderada de 40 países acompanhados pelo mundo. É fato que entre nós o Banco Central tem arcado com uma responsabilidade ampliada por só ter o instrumento da taxa de juros para controlar a flutuação de preços e manter a estabilidade do poder liberatório da moeda.

A política fiscal segue frouxa em função da atração fatal representada pela crescente elevação da carga tributária, forçando a calibragem do sistema econômico via manutenção dos juros básicos em patamar elevado. Essa situação gera uma atração especulativa de capitais externos para o país, desdobrando um efeito colateral no câmbio; que resulta desequilibrado em prejuízo dos agentes internos, a favorecer uma onda de importação de bens e serviços não prioritários.

A resultante é a continuada queda da cotação do dólar em relação ao real, com a moeda norte-americana tendo recuado para menos de R$ 2,00 nas últimas semanas; ruptura de patamar que poderá se manter ao longo do ano. Essa valorização, que prejudica a produção industrial e a exportação de bens de maior valor agregado, também ajuda a segurar a inflação via importação de itens de consumo que se tornam competitivos com mercadorias internas. Já a inflação baixa, conjugada com maior investimento das empresas, permite uma previsão de crescimento em torno de 4,5% – projeção confortável diante do quadro internacional em mudança.

É que aos poucos a economia dos Estados Unidos, considerada uma das locomotivas do crescimento mundial, se acomoda num pouso suave, forçando igual desaceleração em seus principais parceiros. O efeito reflexo sobre as economias dependentes de exportação de commodities como a nossa deverá demorar um pouco, mas será inevitável por volta do segundo semestre.

Essa realidade deve figurar no radar dos formuladores da política econômica, que a nosso ver perderam tempo para manejar os instrumentos a eles delegados pela sociedade, deixando passar a janela de oportunidades mais longa do pós-guerra. De toda forma a redução anunciada nos juros foi positiva e renderá ainda mais se for seguida por outros esforços de racionalização do custo-país, como redução da burocracia e da carga tributária e eficiência na aplicação dos recursos tornados disponíveis pela sociedade.

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