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O Brasil acreditou que bastava ter juros baixos para crescer de forma sustentável; agora, conhece a armadilha da liquidez

Nas últimas décadas, o Brasil conviveu com taxas de juros elevadas, sempre maiores que as taxas verificadas no resto do mundo. Se os juros brasileiros sempre foram altos para quem aplica dinheiro – permitindo que os rentistas tivessem alta remuneração por suas poupanças –, para quem toma empréstimos a fim de consumir ou investir em negócios as taxas sempre foram altíssimas. Em função dessa realidade, foi desenvolvida a crença de que bastaria ao país ter taxas de juros iguais ao padrão mundial que o problema do baixo crescimento econômico estaria resolvido.

Essa crença arraigou-se com tal profundidade que o debate sobre os gargalos responsáveis pelo baixo crescimento do PIB foi ofuscado, quando não esquecido. A ideia de que o Brasil iria crescer inevitavelmente se a taxa de juros fosse baixa começou a ser questionada nos últimos anos, à medida que os juros foram caindo. Hoje, a taxa de juros sobre financiamentos para investimentos e as taxas pagas pelo governo sobre a dívida pública estão em níveis modestos, compatíveis com a lógica mundial. O que não é o caso das taxas cobradas no crédito ao consumidor e das que são pagas pelas empresas para financiar o capital de giro dos negócios, ainda altíssimas.

A redução nos juros pode estimular a economia, sobretudo pela demanda de consumo e de investimento. Porém, os efeitos positivos vão até certo ponto, a partir do qual as taxas baixas deixam de puxar a demanda para cima. É o que tem acontecido com o Japão há muito tempo. Os economistas chamam essa situação de "armadilha da liquidez" – sobra dinheiro nos bancos, a taxa de juros é reduzida e, mesmo assim, os empresários não se animam a tomar empréstimos para investimentos e os consumidores não contraem dívidas para elevar o consumo.

No caso dos empresários, mesmo havendo capacidade ociosa e possibilidades de aumentar a produção, eles somente investem se houver perspectivas de vender sua produção e ter lucros. Sem isso, mesmo com financiamento a juro baixo, não há estímulo para o investimento empresarial. E, além de depender de mercado para vender a produção, o sistema somente consegue elevar o PIB se dispuser de infraestrutura física (transportes, energia, portos, aeroportos, armazenagem, telefonia), que está estrangulada há muito tempo.

O Brasil acreditou que bastava ter juros baixos para crescer de forma sustentável; agora, o país acaba de conhecer a armadilha da liquidez: os juros caíram, mas os consumidores, entupidos de dívidas, não conseguem elevar o consumo e os empresários, tanto pela fraca demanda quanto pela infraestrutura insuficiente, não elevam os investimentos. O pífio crescimento previsto para o PIB em 2012, em torno de 1,7%, acendeu o sinal amarelo no governo federal e os formuladores das políticas públicas saíram tentando medidas isoladas na tentativa de melhorar as coisas.

Nos últimos anos, medidas de estímulo ao consumo, como crédito barato e facilidade para empréstimos bancários, e medidas de incentivo à produção, como a redução de impostos para alguns produtos, foram tentadas em momentos distintos. Ainda que esse tipo de prática possa provocar algum estímulo à economia, trata-se de remendos pontuais; não constitui uma política industrial completa e não significa mudança estrutural na demanda agregada interna. Por outro lado, a hipótese de elevar a demanda pelo aumento dos gastos públicos foi esgotada e não pode ser executada, sob pena de elevação perigosa do déficit público. No caso da demanda externa, o que se vê é a redução no crescimento mundial; portanto, o Brasil não poderá contar com aumento das vendas para o resto do mundo.

Para agravar esse quadro, o país vem sofrendo com a incapacidade do setor público em realizar investimentos previstos e para os quais há recursos orçamentários empenhados. Além da escassez de recursos, o governo tem mostrado incapacidade gerencial para executar projetos relevantes de infraestrutura, e essa é uma das razões que levaram a presidente a aprovar o pacote de concessão de investimentos para o setor privado.

A lição desse panorama é que o Brasil está aprendendo, a duras penas, que o crescimento econômico depende de mais que juros baixos.

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