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De custo barato, mas de efeito devastador, o crack ganha ares de verdadeira epidemia, fazendo hoje vítimas em 91% das cidades brasileiras. A extensão dos tentáculos da droga pode ser avaliada pelos resultados da pesquisa "A Presença do Crack nos Municípios Bra­­­sileiros". Realizada por iniciativa da Con­­­federação Nacional dos Municípios (CNM), o levantamento divulgado na semana passada merece uma profunda reflexão de parte das autoridades e da própria sociedade. A começar pela constatação de que o crack já deixou de ser uma droga consumida apenas pelas camadas mais pobres, enraizando-se atualmente em todos os estratos sociais.

Um lado dramático e visível dessa chaga social está nas cracolândias que proliferam pelas cidades grandes e médias do país, onde outrora seres humanos, hoje autênticos zumbis caídos nas calçadas, são consumidos pelo vício. Diante desse panorama sombrio, é premente a adoção de uma política pública mais efetiva para vencer a batalha contra o mal. Além das ações repressivas contra o crime organizado, que faz do tráfico de drogas uma atividade das mais rendosas, é urgente aparelhar os municípios das condições básicas para a assistência ao dependente e à sua família.

Deficiência que ficou evidente na pesquisa da CNM ao revelar que 63% das cidades têm problemas com a carência de leitos para internação, além da falta de remédios e de profissionais especializados no trato da dependência química. Essa situação denota a precariedade dos recursos destinados pelo governo, tanto para o combate às drogas como para o tratamento dos dependentes. Se por um lado o avanço do crack está esgotando a já limitada capacidade de atendimento das redes municipais de saúde, por outro ele vem se constituindo de forma cada vez mais preocupante em fator de aumento da criminalidade.

Com efeito, das prefeituras pesquisadas pela Confederação dos Municípios, nada menos que 58% delas veem uma relação direta entre consumo de drogas e o aumento da violência. A consequência disso está na ocorrência cada vez mais frequente de furtos, roubos à mão armada, assassinatos, violência doméstica e vandalismo, crimes normalmente perpetrados sob o domínio da droga.

A sociedade não pode ficar alheia ao problema, precisando também dar a sua parcela de contribuição para pelo menos minimizar a situação. Assim é que a participação em conselhos antidrogas, a busca de orientação em centros de atendimento social e psicossocial e a discussão do problema no âmbito familiar, nas escolas, igrejas, clubes de serviço e similares ajuda a esclarecer e orientar. Cabe abrir um parêntese sobre o papel que tem as famílias no esforço de prevenção às drogas no recinto do lar; o diálogo, a ênfase aos valores humanos fundamentais, a valorização da saúde e da vida podem funcionar como freios contra o vício. Nas escolas, são os professores que têm um papel importante a desempenhar, pelo poder de influência que exercem junto ao jovem.

O crack e outras substâncias similares, além do seu aspecto criminal, se transformaram num problema de saúde pública que precisa ser tratado com prioridade máxima pelo governo, tamanha a sua gravidade. Restringir a questão das drogas unicamente à repressão policial contra o tráfico é focar apenas uma das vertentes do problema.

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