• Carregando...

O problema maior nem sempre é começar uma CPI, mas terminá-la. Pois ontem, em sessão conjunta da Câ­­ma­­ra e do Senado, o Congresso Na­­cional finalmente deu por instalada a Comis­­são Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) destinada a investigar a regularidade dos repasses de recursos federais a entidades ligadas ao Mo­­vimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Suspeita-se que, no fundo, seja o di­­nhei­­ro público que esteja sustentando as co­­nhe­­cidas atividades ilegais do MST, como as invasões de propriedades rurais, a destruição de patrimônio privado, as ocupações de prédios públicos, além de ou­­tros crimes previstos no nosso Código Penal.

Começar a CPMI já foi trabalhoso. Foram necessárias duas tentativas: a primeira fracassou porque inúmeros parlamentares, pressionados, acabaram por retirar suas assinaturas do requerimento inicial, deixando-o sem a adesão regimental suficiente para tramitação; na segunda, graças à mobilização da bancada ruralista, foram arregimentados signatários em número até acima do mínimo necessário, propiciando a leitura do requerimento – ato que marca a instalação da comissão. As questões que agora se colocam são: a CPMI conseguirá produzir resultados que comprovem ou descartem cabalmente as irregularidades? Se comprovadas, providências serão tomadas para dar cabo dessa situação?

É bastante conhecida a história das CPIs nacionais e de seus resultados. Pizza é o adjetivo mais repetido para qualificá-las quando ter­­minam, comumente sem conclusões consistentes ou com recomendações que outras instâncias do poder público raramente cumprem. Poucas têm tido êxito no sentido de, pelo me­­nos, esclarecer e alertar a opinião pú­­bli­­ca sobre o que acontece de ruim nos porões. Exemplos recentes de algum sucesso foram representados pelas estrepitosas CPIs dos Cor­­reios e do Mensalão.

A regra geral, ditada pelo bom direito, é considerar que todos são inocentes enquanto não se provar o contrário. No caso em tela, no en­­tanto, tantas são as evidências de que há, sim, estreita simbiose entre as ações do MST com financiamentos oficiais que será lastimável se, outra vez, as investigações culminarem sem a responsabilização tanto dos agentes públicos que transferem recursos – ou que não fiscalizam sua correta e legal aplicação – quanto dos que os desviam para fins criminosos, impedindo a realização de projetos destinados à promoção da justa reforma agrária.

A chance, no entanto, de que estejamos assistindo ao início do processo de cocção de uma nova pizza é mais do que plausível. O número de assinaturas que sustentou o requerimento de instauração da CPMI não é determinante para estabelecer um bom resultado. O que determina esse resultado é a composição da comissão e a disposição de seus membros de investigar e votar com seriedade e com compromisso com o interesse público.

Pois bem: é igualmente reconhecida a es­­treita ligação político-ideológica do MST e de seus braços com larga facção do governo petista e de sua base no Congresso. E a regra regimental, como se sabe, é dividir a composição das CPIs proporcionalmente ao número de cadeiras de que dispõem os partidos na Câmara e no Se­­na­­do. Logo, é de se prever que a CPMI será ma­­jo­­ritariamente constituída por aliados do go­­verno e, consequentemente, do próprio MST.

O que se recomenda, dadas as circunstâncias assim descritas, é a atenção da imprensa e da opinião pública para evitar que a boa intenção com que a CPMI foi criada não se converta em perda de tempo e de recuros do Congresso.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]