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O diplomata venezuelano Edmundo González foi confirmado como opção da PUD para concorrer às eleições de julho
O diplomata venezuelano Edmundo González foi confirmado como opção da PUD para concorrer às eleições de julho| Foto: EFE/ Jeffrey Arguedas/Arquivo

Não é segredo para ninguém que o processo eleitoral venezuelano é um teatro farsesco, elaborado para dar um verniz de legitimidade ao governo de Nicolás Maduro, no poder desde 2013. O ditador, que controla o Judiciário do país, define tanto as regras das eleições quanto os candidatos que irão concorrer, e neste cenário qualquer eleição justa é impossível. Até a candidatura de Edmundo González Urrutia, anunciada pela Plataforma Unitária Democrática (PUD), maior coalizão de partidos de oposição na Venezuela, na última sexta-feira (19) só pode ser efetivada com o aval da ditadura, que deve considerar o diplomata um oponente insignificante.

Sem experiência política, o nome de Urrutia só surgiu como “plano C” da PUD, depois que o regime de Maduro conseguiu barrar as duas primeiras opções da coalizão. María Corina Machado, vencedora das primárias da oposição e considerada a principal oponente de Maduro, foi declarada arbitrariamente inelegível por 15 anos. A indicada para substituir María Machado, a professora Corina Yoris, que não tinha nenhum impedimento que a tornasse inelegível, simplesmente não conseguiu ser registrada no sistema informatizado do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). A desfaçatez foi tanta que até Lula, apoiador irrestrito da ditadura venezuelana, teve de fingir dar uma reprimenda em Maduro.

A oposição sabe muito bem que não terá condições justas para disputar a presidência venezuelana.

A última alternativa da oposição foi apostar em Urrutia, que foi registrado em março como “candidato provisório”. A PUD tinha esperança de que pudesse substituir Urrutia por Corina Yoris posteriormente, mas isso não aconteceu e a opção foi prosseguir com a candidatura do diplomata, nome praticamente desconhecido entre os venezuelanos – e talvez exatamente por isso considerado um oponente muito mais fraco do que María Machado ou Corina Yoris pela ditadura de Maduro.

Junto com os demais candidatos que disputarão a presidência com Maduro – inicialmente eram 12 candidatos registrados, mas Manuel Rosales retirou sua candidatura em apoio ao candidato da PUD e são esperadas mais desistências nos próximos dias – Urrutia tem a insólita tarefa de participar de um pleito onde as cartas estão todas marcadas e o resultado é mais do que previsível.

Caso optasse por não participar do processo eleitoral, a oposição seria acusada de “não querer” se submeter às urnas. Por outro lado, aceitar participar da farsa eleitoral orquestrada por Maduro traz o risco de legitimar uma nova “eleição” do ditador, que poderá argumentar que a oposição participou do pleito, mas foi preterida pelos eleitores.

A oposição sabe muito bem que não terá condições justas para disputar a presidência venezuelana – se houvesse, dado o grau de insatisfação da população que sofre com a pobreza e os desmandos de Nicolás Maduro, era quase certo de que os eleitores optassem por encerrar o mandato do ditador, elegendo um novo presidente. Resta aos oposicionistas usar o pouco espaço que lhes será concedido durante o processo eleitoral para buscar ampliar sua base junto à população, bem como denunciar ao mundo o triste espetáculo das eleições feitas para eleger um ditador.

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