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O grave problema de segurança que o Paraguai enfrenta no interior, atualmente, mostra o quanto são frágeis as instituições do país vizinho. Tanto que, na tentativa de controlar a situação, o presidente Fernando Lugo fez o Con­­gresso aprovar a toque de caixa o Estado de Exceção e colocou o Exército nas estradas e ruas de algumas cidades. O Estado de Exceção vigora em cinco departamentos (estados) do norte do país: San Pedro (berço político do presidente Lugo), Presidente Hayes, Con­­cepción, Alto Paraguai e Amambay (os três últimos fazem fronteira com o Brasil).

A exceção foi decretada após uma chacina na cidade de Horqueta, em Concepción, que deixou quatro mortos, sendo um policial, há pouco mais de uma semana. A autoria dos crimes é atribuída a um grupo que se autointitula de Exército do Povo Paraguaio (EPP). Es­­sa é uma facção do PPL, Partido Pátria Li­­vre, sem representação parlamentar, que luta contra a concentração fundiária no país, uma das maiores do mundo. Segundo as autoridades paraguaias, o grupo possui algumas dezenas de integrantes e age em áreas de selva. Parte dos guerrilheiros teria recebido treinamento das Forças Armadas Revolu­­cionárias da Colômbia (Farc).

A tensão no país se agravou com o atentado que sofreu o senador Robert Acevedo, se­­gunda-feira, na cidade de Pedro Juan Caballe­­ro, capital de Amambay, fronteira com o sul do Mato Grosso do Sul. O motorista e o segurança pessoal que o acompanhavam morreram. Acevedo foi alvejado com dois tiros, mas sobreviveu. O senador deixou o hospital na quarta-feira. Embora o caso esteja em investigação para apurar o possível envolvimento do EPP, a hipótese principal é a de que o atentado tenha relação com o narcotráfico, que o senador desafiava com frequência.

Dois brasileiros, Eduardo da Silva e Mar­­cos Cordeiro Pereira, foram presos, no Para­­guai, pouco depois do ataque ao senador. Contudo, não há confirmação sobre eventuais provas colhidas contra eles. Outros dois (Josué dos Santos e Daniel dos Santos) foram presos no dia seguinte. Todos são acusados de integrar a facção criminosa paulista PCC (Primeiro Comando da Capital).

Para completar o quadro de tensão fronteiriça, cerca de 1.500 brasiguaios foram expulsos do Paraguai por policiais, milicianos e camponeses. Suas terras foram invadidas por paraguaios, insatisfeitos com a presença brasileira na região. O êxodo começou há cerca de três meses e o grande grupo montou acampamento à beira da BR-163, no município de Naviraí (MS), extremo-sul, a 390 km de Campo Grande. Sem estrutura para receber tanta gente, a prefeita Sandra Cassone (PT) do município de 22 mil habitantes disse que pretende decretar estado de emergência.

Apesar de toda essa situação, o Itamaraty confirmou que o presidente Lula não vai desmarcar o seu encontro com o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, agendado para segunda-feira (3), em Ponta Porã, que é separada por uma rua de Pedro Juan Caballero. O encontro é justamente para os dois países estabelecerem uma política comum de segurança fronteiriça contra o narcotráfico.

Essa crise coloca em julgamento o governo Lugo. Se mostrar força, poderá ser o começo de uma reviravolta na abalada situação de segurança do país. Mas não será fácil porque o problema é complexo: as graves disparidades sociais, a criminalidade e toda sorte de ilicitudes estão incrustadas nas profundezas da terra paraguaia. A debilidade das instituições tornou o Paraguai um refúgio de bandidos; e principal corredor do contrabando de armas e do narcotráfico latino-americanos. E pior: tudo desemboca no Brasil. Só medidas muitos firmes e de longo prazo, internamente e na fronteira brasileira, trarão al­­guma esperança real de mudança.

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