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A alegria esfuziante do presidente Lula e de seus dois fiéis escudeiros Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia a respeito do acordo para enriquecimento de urânio firmado com Irã e Turquia durou pouco. No mesmo dia do anúncio do tratado, que na verdade mais pareceu uma manobra para afastar o imediato risco de sanções por parte do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) ao governo de Teerã, os três receberam dois grandes baldes de água fria.

Um partiu do próprio presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que horas após a divulgação do acordo de que Teerã passaria a enviar urânio para ser enriquecido na Turquia revelou que o país não abandonaria seus planos de desenvolvimento de tecnologia nu­­clear. Os acontecimentos seguintes reforçam a tese de que o acordo não passou de uma cortina de fumaça para que sanções fossem evitadas. Além disso, tal atitude indica dois pontos cruciais dessa negociação: ou o Brasil foi muito ingênuo a ponto de acreditar que Ahmadinejad cumpriria o que prometeu ou já sabia da in­­tenção iraniana e, com isso, colocou-se numa situação muito complicada perante os cinco países com assento permanente no Conselho de Segurança. Seja qual for o motivo, o saldo desse acordo será extremamente negativo para o Brasil.

O segundo desapontamento foi encabeçado pelos EUA. Em nenhum momento, os norte-americanos manifestaram confiança nas promessas do Irã com o acordo e um dia após a assinatura dos termos deram prosseguimento às negociações para uma nova rodada de sanções contra o país nas Nações Unidas.

Tal episódio é mais uma "trapalhada" que coloca em xeque a atuação da diplomacia brasileira, que já teve grandes representantes, como Barão do Rio Branco – formulador da política externa brasileira no início do século 20. Ou, ainda, Sérgio Vieira de Mello, embaixador brasileiro e Alto Comissário de Direitos Humanos da ONU, morto tragicamente em 2003, durante um ataque terrorista contra a sede das Nações Unidas em Bagdá, local a que foi enviado como representante especial do então secretário-geral da entidade, Kofi Annan.

Por mais que Lula já tenha sido considerado pelo presidente norte-americano como o político mais popular da atualidade, e tenha sido reconhecido por periódicos respeitados – Le Monde, El País e Time – como homem de grande influência internacional, a diplomacia brasileira tem sido alvo de grandes críticas internas. A mais recente foi o apoio dado ao presidente deposto de Honduras Manuel Zelaya. Além de a embaixada brasileira no país dar guarida por mais de um mês ao hondurenho deposto, o governo brasileiro até hoje não reconheceu o novo presidente eleito por eleições democráticas. Houve também o episódio em Cuba no início deste ano quando Lula afirmou em visita à ilha socialista: "Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos. A greve de fome não pode ser um pretexto de direitos humanos para liberar as pessoas. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade". A visita e a declaração de Lula – que foi uma comparação infeliz – coincidiram com a morte do preso político cubano Orlando Zapata Tamayo, que estava em greve de fome havia quase três meses.

Como já dito neste espaço anteriormente, nosso governo tem trânsito livre com regimes difíceis, marcados pelo autoritarismo e pelo desrespeito às regras do jogo internacional. Ahmadinejad é um exemplo. Chávez e Morales são outros.

O Brasil precisa ter mais maturidade para não colocar em xeque o respeito internacional que conquistou ao longo de décadas. Com atitudes assim, o país se coloca em uma posição de ser estigmatizado pela comunidade internacional, inclusive pelas nações que compõem o Conselho de Segurança da ONU, quais sejam, Reino Unido, Estados Unidos, China, França e Rússia. O passado recente, como o que aconteceu em Cuba e em Honduras e o tratado com o Irã, mostra que a diplomacia brasileira nos últimos anos já não é a mesma.

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