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O Paraná atravessa um visível e perigoso processo de esvaziamento econômico que já deveria ter merecido atenção e ação mais efetiva dos nossos dirigentes públicos. O último dado que nos leva a tal assertiva foi revelado anteontem, quando a Secretaria de Estado da Agricultura divulgou a previsão da próxima safra de grãos. Segundo a estimativa, as lavouras paranaenses de 2006/2007 produzirão 20 milhões de toneladas. Ora, ao invés de comemorações festivas por sua aparente exuberância, o número deve motivar preocupação, pois ele indica que colheremos 10 milhões de toneladas a menos do que o fizemos na safra 2002/2003. Ou seja, a produção estadual de grãos está retrocedendo aos níveis médios da década de 90.

O cenário de retração econômica do estado não se restringe aos resultados do setor agropecuário. É conhecido também o processo de desaceleração da indústria, cujos indicadores vêm se apresentando igualmente desanimadores, com quedas persistentes de produção e vendas – em boa parte como reflexo da baixa performance do campo. Graças a esse conjunto de fatores negativos, o PIB paranaense vem crescendo a taxas inferiores ao do nacional, conforme apontam levantamentos do IBGE e da Fundação Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), órgão do governo do estado.

São conhecidas algumas das razões que nos levaram a tal situação. Dentre elas, destaca-se o desfavorável comportamento do clima: a estiagem que castigou a região Sul do país por três anos consecutivos dizimou uma parte das lavouras e reduziu a produtividade de outras. Sem proteção adequada contra tais perdas, os produtores rurais aumentaram seu endividamento a juros escabrosos ou tornaram-se inadimplentes junto às instituições de crédito. O efeito imediato foi a redução de área, menor emprego de tecnologias modernas durante o ciclo de produção e o cancelamento da compra de máquinas, implementos e insumos – afetando assim, por via de conseqüência, o setor industrial instalado no Paraná.

Menos visíveis do que os campos esturricados pela seca, porém não menos grave do que isso, são os outros aspectos que explicam a crise de empobrecimento da agropecuária. A perda de competitividade dos produtos em razão da política cambial, afetando consideravelmente a renda do setor, é um desses aspectos. Mas não pode se deixar de lembrar, também, das pesadas perdas sofridas em decorrência do falso alarme de que o rebanho bovino paranaense havia sido atingido pela febre aftosa.

Calcula-se que o Valor Bruto da Produção (VBP) apresentou a expressiva queda de 17% só na comparação entre as duas safras anteriores. Em 2004, o faturamento da produção agrícola foi de R$ 31 bilhões, enquanto que o de 2005 foi de R$ 26 bilhões. Isto é, de um ano para o outro, a agricultura deixou de arrecadar diretamente cerca de R$ 5 bilhões – valor que teria se multiplicado com seus reflexos no comércio, na indústria e nos serviços.

Apesar de todo esse quadro, no entanto, não se vêem ações do governo estadual em defesa da agricultura, nem mesmo no sentido político, apoiando-a em suas reivindicações em Brasília. Ou mediante um plano de recuperação que estivesse ao alcance das instituições estaduais.

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