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A defenestração de toda a cúpula do Ministério dos Transportes, diante dos fortes indícios de malversação de recursos destinados a obras rodoviárias e ferroviárias, revela que muitas vezes expurgar maus administradores não significa a solução do problema. Essa é a realidade com que está se defrontando a presidente Dilma Rousseff, em razão das dificuldades em lidar com as lideranças do Partido Republicano, que tem a Pasta dos Transportes na sua cota como integrante da base de apoio do governo. Para o lugar de Alfredo Nascimento, ministro demissionário, o cargo foi oferecido a Blairo Maggi, senador pelo PR de Mato Grosso. O convite feito por Dilma, menos por gosto e mais por conveniência política, por enquanto não teve uma sinalização positiva de Blairo; este, entre outras razões, estaria magoado pela demissão sumária de Luiz Antonio Pagot, seu apadrinhado na direção do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transporte (Dnit), um dos órgãos diretamente envolvidos nas maracutaias.

Antigo Partido Liberal repaginado para Partido Republicano, a agremiação vive à sombra do poder desde 2003, com a eleição de Lula. Nesses anos todos, sempre esteve à frente do Ministério dos Transportes, um dos mais cobiçados em razão do orçamento bilionário de que dispõe. Dinheiro a rodo que parece sempre ter servido para viabilizar negociatas de interesses dos caciques do PR e de empresários dispostos a desembolsar altas somas com propinas em troca da execução de rendosas obras a cargo do ministério.

É preciso que se diga que sob as bênçãos do PR, o apetite pelo dinheiro fácil surrupiado das verbas dos Transportes não vem de hoje. Segundo relatório do Tribunal de Contas da União, quatro em cada dez contratos do Dnit, órgão responsável pela realização das obras rodoviárias federais, apresentam valores inflados. Para chegar a isso, auditores do TCU, ao final de 2009, analisaram 926 contratos, constatando que 43% deles sofreram aditivos de valor e 39% tiveram alterações para aumentar o prazo de entrega das obras. Especificamente no tocante a obras rodoviárias, entre 2009 e 2010, estima-se que o superfaturamento em obras tenha representado um rombo da ordem de R$ 1 bilhão para os cofres públicos. Não bastasse isso, apenas em projetos que nunca saíram do papel, entre 2006 e 2008, o Dnit provocou um prejuízo de R$ 238 milhões.

Ainda que evidentes os descalabros cometidos no Ministério dos Transportes com o beneplácito de um partido acostumado aos conchavos, pôr um paradeiro a essa autêntica farra com o dinheiro público não é tarefa fácil. Diante da prática do loteamento que os eleitos sempre fizeram das suas administrações em troca de apoio, os acertos partidários acabam rapidamente se transformando em verdadeiras camisas de força que submetem os governantes às vontades e pressões dos políticos, sejam elas lícitas ou não. No caso do PR, sua presença no governo é uma verdadeira herança maldita que Dilma recebeu de seu antecessor, e nem mesmo as denúncias que agora escancaram os escândalos praticados por seus representantes são suficientes para frear a disposição de seus membros em manter seus privilégios.

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