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A presidente Dilma Rousseff surpreendeu o Congresso na última semana ao substituir as lideranças no Senado e na Câmara. A decisão foi considerada uma demonstração explícita da sua insatisfação com as atuações do senador Romero Jucá e do deputado Cândido Vaccarezza. Consumada a troca, o novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), falou em alto e bom som para quem quisesse ouvir que Dilma pretendia com a mudança acabar com as velhas práticas políticas do toma lá dá cá. E disse mais o senador amazonense, já na sua função, que, se necessário, o governo iria buscar novos apoios, caso os aliados tradicionais não concordassem com as alterações. Até mesmo o nome do senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE), reconhecido como um crítico contumaz das administrações petistas, foi citado como um possível novo aliado.

Não é de hoje que se defende a necessidade de um paradeiro nas velhas práticas políticas do toma lá dá cá, como bem definiu o recém-empossado líder no Senado. O grande problema que se apresenta é como fazer isso diante de um Congresso dominado por velhas raposas acostumadas a fazer da política uma extensão de seus interesses particulares. Com efeito, Dilma está sentindo na carne o quanto custa ousar tentar governar de forma mais independente, colecionando nos últimos dias uma série de revezes no encaminhamento de matérias de interesse do Planalto.

A crise entre Executivo e Legislativo, por mais que os dois lados procurem minimizar sua dimensão, atingiu na quarta-feira o seu clímax, com derrotas contundentes para Dilma. A oposição na Câmara conseguiu aprovar que ministros fossem chamados a dar explicações sobre denúncias e a votação da Lei Geral da Copa acabou adiada, numa manobra liderada pelo principal aliado do governo, o PMDB. A pressão dos deputados é pela votação inicialmente do Código Florestal com o que não concorda o Planalto, que teme que os dissidentes capitaneados pela bancada ruralista façam alterações no texto já aprovado no Senado.

É fato que a relação de Dilma com o Congresso nunca foi das mais tranquilas. Acostumados com as atenções e benesses do ex-presidente Lula ao longo dos seus oito anos de governo, os parlamentares reclamam do tratamento mais distante dispensado pela sua sucessora. É até admissível admitir que está se faltando da parte do Planalto mais jogo de cintura no entendimento com os parlamentares, mas também é evidente que a crise põe a nu a forma como as coisas funcionam em Brasília.

Combater a viciada prática do toma lá dá cá, como foi anunciado pelo líder no Senado Eduardo Braga está custando caro para Dilma, que se vê hoje acuada pela sua própria base aliada. Uma queda de braço que pode deixar indesejadas sequelas de relacionamento, ainda que os bombeiros de plantão estejam a postos para debelar o incêndio que ameaça se alastrar. Apesar das dificuldades enfrentadas, a hora é de a presidente Dilma mostrar autoridade e não ceder às chantagens e pressões urdidas pelos insatisfeitos. A propalada disposição de combater os antiquados e nocivos hábitos políticos que predominam há décadas é um fato que deve ser enaltecido e apoiado. Quem sabe o confuso momento não possa se transformar na oportunidade da abertura de novos caminhos para a política nacional. É o que o país espera e necessita.

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