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O novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, foi escolhido para o cargo em razão dos seus reconhecidos dotes políticos e do suposto jeito para o comando. Sabia-se de antemão que não dispunha de poderes mágicos para devolver ao caótico setor aéreo brasileiro, num só passe, o mínimo de ordem, conforto e segurança – ou seja, tudo o que exigem os sofridos passageiros que, há pelo menos dez meses, assistem impotentes, preocupados e chocados ao que ocorre nos ares e nos aeroportos. E que estão, sobretudo, horrorizados com as tragédias que já ceifaram, nesse curto período, quase 400 vidas.

Entretanto, é de se esperar de Sua Excelência brevidade nas providências, hoje claramente destinadas a superar a absoluta falta de sincronia que impera na atuação dos três entes diretamente responsáveis por tudo quanto diz respeito à aviação comercial: a Aeronáutica, a Infraero e a Agência Nacional da Aviação Civil (Anac). Jobim viu com seus próprios olhos esta grave deficiência na última sexta-feira quando, em São Paulo, fazia uma vistoria – de duvidosa utilidade, a não ser para atrair os holofotes da imprensa – na pista de Congonhas e nos escombros do depósito onde se espatifou o Airbus da TAM dez dias antes.

De fato, deu-se naquele momento o exemplo mais perfeito e acabado dessa falta de articulação entre os três órgãos: a Infraero liberou a pista principal do aeroporto, até então fechada; minutos depois, após o pouso de uma única aeronave, a Anac determinou que fosse novamente fechada. Por quê? Porque o terceiro órgão envolvido, a Aeronáutica, ainda não havia expedido documento que habilitava a pista. Só depois do inconcebível "bate-cabeça" é que se entenderam para cumprir o ritual burocrático, e o Aeroporto de Congonhas voltou a operar "normalmente".

Claro está também que não é a estrutura organizacional a responsável pela baderna. O tripé é perfeito e, de modo geral, idêntico ao que se vê no resto do mundo: do controle de vôo quem cuida é a Aeronáutica; da infra-estrutura aeroportuária, a Infraero; e da fiscalização das companhias aéreas, a Anac. O problema está é na inépcia dos dirigentes desses organismos, especialmente dos dois últimos, indicados unicamente por critérios políticos e não por seus predicados técnicos ou profissionais. As seguidas declarações estapafúrdias que produziram nos últimos tempos dão uma visão precisa do despreparo desses agentes para desincumbir-se das tarefas que lhes foram delegadas.

Neste fim de semana, Jobim se encontraria com o presidente Lula para passar-lhe os primeiros resultados do seu diagnóstico preliminar, com base no qual pretende colocar em prática a necessária e inevitável providência de trocar os comandos da Infraero e da Anac. A substituição dos atuais dirigentes será um passo importante, desde que o ministro não se enrede nas teias político-partidárias e faça de novo escolhas equivocadas, ao feitio do que provocou o aparelhamento do Estado imposto pelo PT em coalizão com legendas fisiológicas.

É de se dar um voto de confiança ao ministro Nelson Jobim. É cedo para duvidar de sua aptidão para enfrentar o desafio que lhe foi entregue – mas se errar na restauração da competência técnica dos estratégicos três setores colocará em risco a execução eficaz de todas as demais complexas e caras medidas que o setor aéreo está a exigir – desde a construção e ampliação de aeroportos e da modernização do sistema de controle de vôo até a reformulação do modelo militar e estatal em que hoje está assentada a aviação comercial do país.

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