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A uma semana das eleições gerais, o panorama pode ser alterado pelo escândalo do dossiê contra políticos oposicionistas de São Paulo, desmontado a partir de uma ação da Polícia Federal. Todavia, por causa do aquecimento de ânimos típico da corrida eleitoral, cumpre moderação na apreciação do fato, como é do perfil brasileiro. Não obstante, mesmo não empurrando a decisão para o segundo turno, a crise deflagrada na campanha petista pode nivelar a preferência maciça do presidente Lula, restaurando o equilíbrio entre as forças em disputa com benefício para o pluralismo democrático.

É que, julgando-se antecipadamente reeleito, o presidente da República fez comentários extravagantes durante um jantar com empresários, sobre a tentação de se valer de soluções heterodoxas para superar dificuldades no relacionamento com o Congresso. A preocupação despertada por essas indiscrições, porém, foi superada pouco depois com a emergência do caso do dossiê que estava sendo articulado contra candidatos do PSDB.

A extensão em que esse episódio vai influir na marcha da campanha é tema para especialistas em pesquisa eleitoral; o fundamental para a cidadania é evitar que "tempos estranhos" se tornem a regra na política brasileira, como citou oportunamente uma colunista deste jornal. Outro observador avaliou que a crise do dossiê, transpondo para o cenário nacional uma prática truculenta de alguns setores no mundo sindical – com o resultado negativo de sua rejeição pela opinião pública –, lembra a figura grega da "hibris", a arrogância do herói que, nas tragédias, faz os deuses tramarem sua queda.

De fato, ao movimentar os números das pesquisas eleitorais, o episódio refreia o favoritismo absoluto em que ia a campanha reeleitoral, tornando os líderes que exercem o governo mais aferrados ao chão da realidade. Isso é positivo, segundo a lição dos tratadistas, por restaurar o equilíbrio básico nas relações de poder, na lição clássica de Montesquieu. Assim é que os democratas sempre olham com reserva a concentração de poderes em mãos de um líder político, lembrando o conselho de Lord Acton de que "só o poder limita o poder".

Foi ainda por causa das cautelas em torno desse exercício dos poderes governamentais que os fundadores da república americana repartiram as funções de governo em três ramos que operam mediante um sistema autolimitante de "freios e contrapesos". A existência de instituições autônomas em relação ao Executivo, tais o Congresso e o Judiciário, gera moderação no exercício do poder estatal – como se verificou nesta semana quando o presidente Bush teve de negociar com os senadores para obter aceitação de um projeto de lei de segurança.

O bom senso que deve presidir o comportamento geral nos dias presentes tem relevância na campanha eleitoral, porque todos devemos velar pela consolidação das instituições. Afinal, elas é que tornam concreta a estabilidade democrática.

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