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Três dias após o início do horário de propaganda gratuita no rádio e na televisão, o eleitor brasileiro já somou inúmeras razões para manter-se desencantado com a política. Pouco ou quase nada se viu até agora que se assemelhasse ao exigível para o momento tão grave que vive a nação. Repete-se a verborragia de sempre, numa sucessão de frases de efeito pouco proveitosa para quem esperava dos candidatos demonstrações de séria e consistente vontade de apontar caminhos, de propor soluções viáveis para os problemas que afligem a sociedade.

Com idéias pontuais e genéricas sobre os temas mais variados – da corrupção à segurança, do combate à pobreza à construção de hospitais, escolas, estradas etc. –, os candidatos, sejam eles a governador do Paraná ou a presidente da República, não se deram ao trabalho de torná-las coerentes, amarradas num plano estratégico de desenvolvimento econômico e social de médio e longo prazos. Não há projetos, não há propostas que alcance futuro mais largo do aquele que os faz pedir votos – isto é, simplesmente ganhar a eleição.

Por isso, não é de se esperar que o eleitor melhore o nível de aceitação que atualmente devota aos políticos a partir desse espetáculo pobre e cansativo a que assiste na tv ou ouve no rádio. Não é seguramente com essa cantilena que se vai melhorar a consciência cívica da população, já que todos os candidatos se mostram tão iguais nas promessas e nas posturas determinadas por seus marqueteiros. No máximo, os candidatos conseguirão a adesão passageira de algumas camadas do eleitorado, talvez suficientes para eleger um ou outro, mas não a adesão a uma causa maior, já que esta lhes falta.

Não por outras razões, faltando tão poucos dias para os brasileiros e paranaenses decidirem em que mãos colocarão seus destinos, a grande maioria ainda não sabe qual dos candidatos merecerá seus votos. A pesquisa RPC/Gazeta do Povo/Ibope, divulgada na semana passada, dá-nos conta dessa realidade. Quando perguntados em quem votariam para governador do estado, nada menos de 64% dos entrevistados diziam ainda não saber; 54% também não tinham preferência por nenhum dos postulantes à Presidência.

Este cenário vazio de propostas e incapaz de provocar o interesse popular, afloram duas importantes questões. A primeira diz respeito à obrigatoriedade do voto. Até quando os cidadãos estarão sujeitos à prática pouco democrática do dever de votar mesmo quando não queiram fazê-lo? O voto obrigatório acaba sendo, então, uma fonte de distorções, na medida em que eleitores pouco conscientes da responsabilidade cívica preferem anulá-lo ou deixá-lo em branco, quando não o utilizam como moeda de troca para favores de caráter pessoal.

A facultatividade do voto, por outro lado, obrigaria os políticos a elevar o nível das campanhas por saberem que deveriam se dirigir, preferencialmente, aos cidadãos verdadeiramente interessados e, conseqüentemente, mais críticos em relação à conduta deles. Esta é uma das razões pelas quais a reforma política de que o país tanto precisa deve instituir o voto facultativo como uma das maneiras mais eficazes para produzir o saneamento das nossas práticas eleitorais.

Se à obrigatoriedade do voto somar-se o comportamento dos postulantes – representado pela demagogia barata, pelas promessas que nunca serão cumpridas, pelo mau-gosto dos motes, pelo faraisaismo das imagens e pela pobreza de idéias, – estar-se-á potencializando o desinteresse e até mesmo a repulsa que o eleitorado dedica aos políticos. Será, da parte destes, um desserviço à democracia e à recuperação da própria credibilidade.

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