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Ao longo dos últimos dois anos, a ainda inacabada Operação Lava Jato mostrou aos brasileiros o quanto a máquina pública está contaminada pela mais deslavada corrupção. O que já veio à tona nos revela a existência de um sem-número de ladravazes dos mais variados calibres que atuavam nos porões do governo em conluio sistemático e sistêmico com grandes empresas na prática de troca de vantagens por propinas em escala jamais vista no país. Prendeu temporária e preventivamente vários desses suspeitos; condenou outros tantos; nunca antes celas penitenciárias foram habitadas por tantos poderosos que se consideravam acima das leis.

As evidências parecem comprovar, a cada dia, que a Lava Jato ainda tem muito a fazer. O trabalho de limpeza ética, ao que tudo indica, está longe de ser concluído. São inúmeros os políticos que estão sendo investigados, dentre os quais, muitos parlamentares e três ministros nomeados pelo presidente interino Michel Temer. Daí advêm os sinais, cada vez mais frequentes, de que há o ânimo, ainda que inconfessado e subterrâneo, de um grupo de peemedebistas investigados de tentar esvaziar a operação.

É preciso evitar quaisquer possibilidades de que colegas de partido exerçam pressões indevidas.

Ao presidente Michel Temer é preciso dar o crédito de quem foi firme no discurso que fez na semana passada e de quem está no início do mandato. Mas suas declarações não têm sido suficientes para aplacar a desconfiança de que o que mais desejam os investigados da cúpula de seu partido é manobrar para obstruir ou reduzir os danos que ela ainda pode causar.

Por isso, o presidente precisa ser mais enfático. Temer tem que estar atento para assegurar que as garantias que deu sejam cumpridas e, até mesmo, se necessário, atuar para a blindagem do trabalho dos envolvidos na operação. É preciso evitar quaisquer possibilidades de que colegas de partido exerçam pressões indevidas.

Manobras dessa natureza já foram tentadas por Dilma, Lula, o PT e seus aliados. Emblemática foi a tentativa de nomear Lula ministro-chefe da Casa Civil para dar-lhe foro privilegiado e livrá-lo de vir prestar contas à República de Curitiba. Não faltaram também outras ameaças, como a do ex-ministro da Justiça que prometeu punir rigorosamente até mesmo o “cheiro” de vazamento de informações. Tentativas de obstrução abrangeram até mesmo pelo menos uma indicação para a vaga de ministro no Superior Tribunal de Justiça (STJ), de quem se esperava decisões favoráveis a investigados e delatores presos.

Também não faltaram críticas e recursos administrativos e judiciais para conter supostos arroubos do juiz titular da 13.ª Vara Criminal, Sergio Moro, cuja caneta foi a principal responsável por ter mostrado o lado avesso da prática política nacional, que não poupou os maiores notáveis do poder encrustados no governo e nas grandes empreiteiras cúmplices. Bom lembrar: até agora, menos de 4% das decisões de Moro foram reformadas por instâncias superiores.

Diante dos perigos que os rondam, é de se supor que os investigados pensem que seria de todo conveniente que a Lava Jato lhes deixasse em paz. Vem daí o risco de esvaziamento da operação já que popular e politicamente se tornou completamente inviável investir frontalmente contra ela. Neste momento, em que todo o cuidado é pouco, toda a atenção de Temer é necessária para que, além da “salvação nacional” de que falou em seu discurso de posse, permaneça assegurada a continuidade da atuação implacável da Lava Jato

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