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Ao tomar posse ontem para um novo mandato, o presidente reeleito da Venezuela, Hugo Chávez, confirmou a proclamação de que o país vai marchar para um "socialismo do século 21", envolvendo mudanças substanciais nas áreas política, econômica e social. A radicalização do discurso chavista – que na segunda-feira anunciara que vai retomar a propriedade de empresas de eletricidade, telefonia e comunicações – causou preocupação generalizada nos mercados, fazendo a bolsa de valores de Caracas despencar 19%.

Além da questão econômica, outras posições do presidente venezuelano repercutiram negativamente mundo afora, sobretudo a declaração de que poderia enviar tropas para apoiar o combalido governo de Evo Morales na Bolívia e seu patrocínio do presidente sandinista Daniel Ortega, que também tomou posse ontem como dirigente eleito da Nicarágua, na América Central. Com essas duas nações, mais outros governos aliados, Chávez pretende formar um arco "bolivariano" na região, minando os esforços de líderes democráticos por um desenvolvimento de feição ocidentalizada.

Fortalecido pelo crescimento das receitas com a produção e venda externa de petróleo, o ex-militar Hugo Chávez goza de inegável popularidade em seu país. Seus programas de assistência para segmentos mais pobres da sociedade venezuelana foram mais longe do que iniciativas similares aplicadas no Brasil e outras nações. Com isso, em fins do ano passado Chávez foi reeleito com 63% dos votos, tem à mão uma Constituição moldada ao seu feitio e ainda controla a totalidade de um Congresso, donde as correntes oposicionistas se ausentaram em pleito anterior, após tentativa de golpe para remover o líder esquerdista pela força.

Os analistas avaliam que a "revolução bolivariana" do antigo tenente-coronel – que também havia tentado golpear o governo legítimo anterior do presidente Carlos Perez (1992) – foi facilitada pelo fracasso da elite tradicional. Esta, em vez de promover o desenvolvimento, limitou-se a usufruir das verbas do petróleo após o choque de oferta que em 1973 triplicou os preços do combustível. Quando as cotações do óleo se desvalorizaram, a fermentação social abriu caminho para a onda chavista na virada do século.

O ciclo que ensejou a elevação de Chávez confirma a "maldição do recurso natural" de que cogitam os economistas. Mas ao radicalizar sua linha de atuação política, tentando reviver um socialismo à moda antiga – numa era onde as convergências tecnológica, econômica e política criaram o "mundo plano" descrito por Thomas Friedman – Chávez comete um retrocesso que acabará prejudicando principalmente a população do seu país.

O problema é que a retórica populista e antiamericana do dirigente venezuelano – mesmo contando com admiradores esparsos na região, inclusive no Paraná – afeta toda a América Latina, anulando o laborioso esforço de modernização empreendido por líderes democráticos, desde o Chile de feição mais liberal até o Brasil da esquerda pragmática do presidente Lula.

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