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A prisão do bandidão Nem na semana passada, somada à ocupação das favelas da Rocinha e do Vidigal, no domingo, foram dois duros golpes impostos ao tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Sob domínio dos traficantes há 30 anos, a ocupação das duas populosas comunidades foi realizada em duas horas sem a necessidade de um único disparo pelas forças de segurança. Diferente do ocorrido há um ano, quando da retomada do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro. Na ocasião, a ação foi marcada por confrontos entre as forças de segurança e os traficantes que resistiram em abandonar o que consideravam o seu território.

Longe, porém, de imaginar que as operações em curso no complexo de favelas do Rio de Janeiro tenham o condão de acabar com o narcotráfico que por décadas domina os morros da dita Cidade Maravilhosa. A começar pela relação umbilical entre traficante e consumidor de drogas, o que faz com que a existência de um garanta a do outro. Emblemática mesmo, nas bem-sucedidas ações até agora para despejar a bandidagem de sua zona de conforto, é a reação do Estado de Direito contra o poder paralelo que vinha afrontando não só a sociedade carioca, mas a brasileira por extensão. Uma resposta clara de que ninguém pode estar acima da lei.

Considerando-se suficientemente em segurança em seus redutos de difícil acesso, esses chefões do tráfico dominam comunidades inteiras, impondo a sua vontade como sendo lei soberana. Do alto comandam as ações criminosas, combinando muitas vezes reações de extrema violência para fazer valer seu poder com ações de puro paternalismo. Ainda assumindo um papel que em muitos casos é atribuição do Estado. Assim é que com a aura de protetores dos moradores asseguram a distribuição de alimentos, assistência médica, vagas em creches e até o pagamento de despesas pessoais dos que recorrem a eles.

As operações levadas a efeito no Rio de Janeiro, para desalojar as facções criminosas das comunidades, é uma resposta à sociedade de que ninguém pode estar acima da lei. Um primeiro e importante passo dado para acabar com uma realidade social distorcida e um desafio que se impõe nos núcleos hoje pacificados: garantir que a bandidagem não retorne ao primeiro recuo das autoridades. Para tanto, a implantação das UPPs deve continuar a merecer tratamento prioritário como modelo que se mostrou eficaz. A partir daí, o trabalho dessas unidades pacificadoras deve ser complementado com um elenco de outras ações de forma a consolidar uma nova realidade que se vislumbra para os morros cariocas. A começar pela melhoria das condições de vida dos moradores nesses núcleos, até agora acostumados a conviver com o cotidiano do crime, seja pela submissão à lei do silêncio imposta, seja pelo usufruto das benesses distribuídas pelos traficantes. Para se ter uma ideia do poder amealhado pelo crime organizado encastelado nas favelas do Rio, no caso do traficante Nem, além das drogas ele explorava os serviços clandestinos de gás, transporte alternativo e televisão a cabo na Rocinha e no Vidigal. Atividades que, com o comércio de drogas, rendiam a ele, segundo estimativas, uma receita que beirava os R$ 100 milhões/ano, quantia em parte gasta para comprar a sua segurança, inclusive com o pagamento de propina à banda podre da polícia. Este outro fator alimentador do crime organizado e que pode, com o muito que Nem tem para contar à polícia, ajudar a banir dos organismos policiais os maus elementos que acobertam atividades criminosas nas comunidades cariocas.

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