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 | Alan Santos/Presidência da República
| Foto: Alan Santos/Presidência da República

Apesar do avanço da ciência e do conhecimento no campo da economia, da sociologia, da política e da psicologia das massas, uma pergunta antiga que intriga os pensadores e intelectuais (e para a qual há tantas respostas quantas são as dúvidas) e que continua válida é: o que causa o desenvolvimento econômico? Há muitas teorias e opiniões a respeito, mas a rigor ninguém tem a resposta indiscutível. Entretanto, uma coisa é certa: um elemento necessário, embora não suficiente, para que o desenvolvimento ocorra é a taxa de confiança. Confiança da população nas instituições em geral e, em particular, confiança no governo, no Poder Legislativo, nas soluções rápidas e justas dos conflitos, confiança nas leis, no Poder Judiciário e no respeito aos contratos jurídicos perfeitos, confiança na palavra empenhada e nos acordos entre as pessoas, enfim, confiança em todo o sistema econômico, político e social, e na boa fé das pessoas em cumprir a palavra e os acordos.

Além dos aspectos mais amplos da “sociedade de confiança” – expressão essa que é título de memorável obra do sociólogo, político e escritor Alain Peyrefitte –, é necessário confiança em aspectos da vida econômica e social sem a qual as decisões de investimentos e de negócios são desestimuladas, a economia inteira é prejudicada e o crescimento do produto nacional é inibido. Confiança na estabilidade da moeda, no equilíbrio das contas públicas, na estabilidade das leis e regras, na normalidade dos fluxos financeiros, na solidez do sistema bancário e nos fundamentos da política econômica são, entre outros, elementos essenciais para estimular os investimentos, os empreendimentos, a criação de negócios e o crescimento da produção, emprego e renda.

O país não pode mais esperar meses para resolver essa crise

O Brasil está começando a sair da grave recessão que sofreu nos últimos quase quatro anos: a inflação cedeu e está abaixo da meta, o desemprego começa a ceder, ainda que muito lentamente, os investimentos dão sinais de elevação e algumas reformas tinham começado a andar no Congresso Nacional.

Mas, infelizmente, há muito tempo o Brasil sofre com a interminável sucessão de crises e escândalos que ocorrem na política e nos escaninhos do poder estatal, e recentemente um terremoto se abateu sobre a política e o governo. O epicentro do abalo está no famoso áudio gravado por Joesley Batista, um dos donos da JBS, em diálogo com o presidente da República.

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A confusão explodiu, houve tumultos sociais, políticos foram presos, o presidente da República e seu governo foram imediatamente fragilizados, e desmoronaram os alicerces de vários partidos políticos. Verdadeiros ou não e com muita coisa para ser esclarecida – inclusive a hipótese de edição e manipulação dos áudios –, os fatos e o tamanho da crise provocada lançaram uma avalanche de reações nos mercados, na economia e na retomada do crescimento, cujas consequências podem puxar, de novo, a economia para baixo. Enquanto não se esclarece a questão em toda sua profundidade, o trem da produção e dos investimentos já pisou no freio.

O país não pode mais esperar meses para resolver essa crise. A nação precisa recuperar com urgência a taxa de confiança para sair da crise econômica, aumentar a produção, a renda e os empregos, para elevar a renda por habitante e, nas próximas décadas, deixar a pobreza e o baixo padrão de bem-estar social médio para trás. Elevar a taxa de confiança e colocar o país em normalidade política: nisso reside o principal desafio neste momento tão lastimável para a nação.

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