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A recessão brasileira está caminhando para adquirir feições de catástrofe econômica. Segundo previsões feitas por instituições financeiras, organismos internacionais – a exemplo do Fundo Monetário Internacional (FMI) – e consultorias independentes, o Produto Interno Bruto (PIB) pode atingir queda acumulada de 10% nos quatro anos seguintes a 2013, equivalente a R$ 585 bilhões aos preços de 2015. Nesse mesmo período, a população brasileira deve crescer em torno de 6,5 milhões de habitantes. O saldo líquido dessa conjugação de fatores seria a redução de 12,8% na renda por habitante, um empobrecimento pesado para um país ainda pobre que tem entre seus principais desafios exatamente a elevação da renda por habitante.

Além da tragédia econômica, um retrocesso de tal magnitude acabaria por provocar tensões sociais, já que empobrecimento casado com inflação elevada, desemprego alto e falta de perspectivas constitui combustível para graves problemas econômicos e sociais. As estimativas não estão longe de acontecer e, mesmo que a queda do PIB não seja tão grande quanto as previsões, a recessão já ocorrida está causando empobrecimento de forma rápida. Para piorar as coisas, a crise acontece simultaneamente ao agravamento da inflação – no ano passado, o IPCA ficou em 10,67% –, cujo poder de corrosão sobre os salários é altamente perigoso.

Ao liberar o uso do FGTS para garantir dívidas, o governo fabrica mais um remendo para uma economia cheia de problemas graves

Em um quadro com tal configuração, o mínimo que o governo deveria fazer é oferecer à população um plano de recuperação que fosse consistente, tecnicamente bem elaborado e capaz de recolocar o país no rumo do crescimento e da reorganização econômica. Embora na história brasileira raramente a nação tenha sido acometida por tantos indicadores ruins ocorrendo ao mesmo tempo na política, na economia e nos valores morais, o governo insiste em medidas isoladas e equivocadas, em vez de pensar em algo estrutural e mais abrangente.

Na semana que passou, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, declarou que está estudando autorizar o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como garantia para empréstimos consignados. É a estratégia de fazer de tudo para que o povo saia gastando e fazendo dívida, na tentativa de induzir o setor produtivo a aumentar o nível de atividade e ajudar a frear a queda do PIB. Essa estratégia foi adotada no governo Lula de forma intensa e, embora nos meses iniciais tenha parecido produzir efeitos positivos, os resultados estruturais foram os piores possíveis.

O poder de gastar e consumir de um povo é obtido com a renda ganha com seu trabalho no processo de produzir os bens e serviços que esse mesmo povo irá demandar. Como muitos gastam menos do que ganham, o saldo positivo é aplicado no sistema financeiro para que este empreste às pessoas, às empresas e ao governo. Logo, é normal que os bancos financiem aqueles que querem momentaneamente gastar além do que ganham. Mas, quando inventa medidas para incentivar a população a consumir mais e fazer dívidas, o governo cria uma legião de endividados, os quais terão dificuldades e trarão o consumo para baixo à medida que seus débitos vão vencendo.

Ao liberar o uso do FGTS para garantir dívidas, o governo fabrica mais um remendo para uma economia cheia de problemas graves, a maioria gerada justamente por excesso de intervenção governamental na vida das pessoas. A impressão transmitida é de que o governo não tem um plano e não sabe o que fazer para tirar o país do atoleiro em que meteu o país com sua política econômica errática.

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