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A palavra "desindustrialização" entrou para o vocabulário econômico de forma mais intensa nos últimos cinco anos. Em sua definição mais simples, essa expressão significa a possibilidade de fechamento em massa de empresas industriais nacionais, pela incapacidade de competir com empresas sediadas em outros países ou porque suas exportações dão prejuízos. Aquilo que parecia ser mais uma gritaria dos empresários, que costumam reclamar com ou sem razão, está começando a se tornar uma ameaça real. Convém ao país começar a prestar atenção nesse fenômeno, a fim de que providências cabíveis, e possíveis, sejam tomadas para evitar o pior. O mais importante é entender os fatos relacionados ao problema, separar as verdades dos mitos e descobrir quais soluções são factíveis.

No primeiro grupo, estão as empresas exportadoras, sufocadas pela taxa de câmbio que, por estar em níveis muito baixos, impõe redução em suas receitas em reais, a ponto de levá-las a contabilizarem prejuízos sistemáticos. Líderes de entidades de classe já se manifestaram contra a baixa taxa de câmbio, em muitos casos para afirmar que qualquer preço do dólar abaixo de R$ 2,30 é suficiente para impor prejuízos nos balanços dos exportadores.

A inflação desde a implantação do Plano Real já passou dos 250% e, se ela tivesse sido repassada para a taxa de câmbio, o preço do dólar estaria em, no mínimo, R$ 3,50. Porém, como o Brasil teve ganhos de produtividade e o dólar andou se enfraquecendo diante das moedas mundiais, segundos os líderes empresariais uma taxa de câmbio em torno de R$ 2,30 seria suficiente para manter as empresas exportadoras lucrando o suficiente para garantir a continuação de suas atividades. Como a taxa de câmbio em seu momento de menor cotação nas últimas semanas chegou a bater o valor de R$ 1,54, estima-se que muitas empresas não conseguirão manter vivas suas atividades por muito tempo.

Ao vender seus produtos ao exterior, a empresa nacional já tem de enfrentar os competidos estrangeiros, os quais correm atrás dos mesmos clientes. A elevada carga tributária e o alto custo Brasil atuam como fatores de redução da competitividade das empresas brasileiras, pelas razões já conhecidas: tributos mais elevados do que em outros países, exagerados custos de transporte, energia e portos, além de taxas de juros mais altas do que as taxas pagas pelas empresas estrangeiras.

As empresas desse primeiro grupo (as exportadoras) são as mais afetadas e as que estão ameaçadas mais fortemente de terem de fechar suas portas. Há o segundo grupo de empresas, que também sofrem com essa situação toda (particularmente com a baixa taxa de câmbio), mesmo não sendo exportadoras. Se, por causa da inflação dos últimos 16 anos, os custos de produção dos fabricantes nacionais subiram, no mínimo, 250% e o preço do dólar está apenas 60% acima da cotação de julho de 1994, data do nascimento do real, comprar produtos importados ficou mais barato do que comprar produtos nacionais. Uma camiseta produzida na China entra no Brasil a um preço inferior ao preço mínimo que o fabricante nacional consegue produzir. Esse exemplo vale para outros produtos importados da China ou de outros países.

Nesse segundo grupo estão milhares de empresas nacionais, as quais podem ver-se diante do imperativo de fecharem suas fábricas por não suportarem concorrer com os produtos importados. Se ocorrer a hipótese de fechamento de fábricas nacionais exportadoras e, também, de fábricas que produzem apenas para o mercado interno, a desindustrialização do Brasil passará de fantasma para a condição de realidade. Quaisquer que sejam as justificativas e as virtudes da política de câmbio flutuante, o fato é que, com as baixas cotações dos últimos anos, o preço do dólar poderá acabar provocando a diminuição do parque industrial brasileiro; isso é, "desindustrialização".

Não se trata de defender o retorno da política de tabelamento da taxa de câmbio, pois os defeitos dessa política e as dificuldades de sua viabilização são conhecidos. Além do mais, o Brasil está inserido fortemente no mercado internacional e não pode mais fazer o que quiser com sua política cambial. O problema é que há alguns países, cujo exemplo maior é a China, que não jogam pelas regras do câmbio livre e vêm mantendo suas moedas desvalorizadas. O comportamento da China, já criticado pelo governo dos Estados Unidos e muitos outros, é prejudicial ao Brasil, em especial porque a China é, hoje, o maior parceiro comercial dos brasileiros.

O governo federal enfrenta, portanto, dois inimigos ferozes no jogo do comércio exterior: a sobrevalorização do real perante o dólar e a desvalorização elevada da moeda chinesa. Não há solução fácil. O que não se pode, contudo, é fechar os olhos para o problema e nada fazer, sob o risco de o país sofrer perdas irreparáveis ao seu parque industrial.

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