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Enquanto aumentam os sinais de desaquecimento nas economias centrais como Estados Unidos e Europa, a repercussão chega ao Brasil, com essa desaceleração mundial colhendo o país em meio a um ciclo natural de retração, após a estiagem e crise de sanidade na produção agrícola, perda de dinamismo no comércio exterior e outros fatores. Entre eles, o esgotamento do efeito alavancagem das mudanças no crédito doméstico e o "pé no freio" de investimentos durante o ano eleitoral. Mesmo assim, o país será menos afetado, pelo fato de nosso crescimento já estar desacelerado e porque se preparou ao blindar as contas externas.

Os primeiros sinais de mudança no cenário internacional vieram com a troca de comando no Banco Central dos Estados Unidos, o "Fed", onde Alan Greenspan foi substituído pelo novato Bernanke. Dispondo de menos credibilidade, o ex-conselheiro econômico da Casa Branca precisou superar a desconfiança dos agentes produtivos com mais vigor na fixação de juros para obter resposta, traduzida na redução dos créditos para casa própria, financiamento do consumo etc.

O problema é que o ânimo dos atores econômicos americanos se inverteu para o pessimismo, situação agravada por instabilidade via aumento dos preços de combustíveis, crescimento de importações e outros efeitos das intervenções unilaterais do governo Bush no jogo de poder mundial. Pelo fato de os Estados Unidos funcionarem como economia-líder sua desaceleração transmite ondas que afetam os demais países.

Outro aspecto, segundo o professor Delfim Netto, é que a globalização encolhe o espaço econômico, produzindo uma redução consistente do custo dos transportes. Ela também encolhe o tempo com o aumento dramático na velocidade das comunicações, o que resulta na integração crescente de mercados para assegurar ganhos de escala produtiva. Tais efeitos excluem os atores menos qualificados e forçam realinhamentos amplificadores da instabilidade – como se queixam pensadores nos próprios Estados Unidos.

Entre nós, tais fenômenos já chegaram: queda da bolsa, elevação dos juros e flutuação do câmbio, anulando o modesto crescimento apoiado no dinamismo das exportações após a mudança cambial de 1999, modernização do agronegócio a partir de incentivos adotados pelo governo FHC e, mais recentemente, transferências de renda e crédito consignado, sob o governo petista. Tais alavancas perderam força, ante o esgotamento do efeito multiplicador do crédito direcionado para trabalhadores e aposentados e das crises da agricultura e indústria – fazendo recuar a previsão de expansão do PIB para 3,5% ou menos.

A expectativa é que desta vez o desaquecimento americano golpeará menos o Brasil, após a redução da dívida externa e o ritmo modesto de crescimento. O problema é que o esfriamento desordenado da economia norte-americana, fluindo como onda num mundo crescentemente integrado, pode alcançar outros países, inclusive o nosso.

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