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O encontro no Rio da rodada de Doha da Organização Mundial de Comércio, realizado neste fim de semana, pode pavimentar o caminho para mais liberalização comercial. Ao se reunirem na antiga capital os representantes da União Européia, Estados Unidos e Mercosul reconheceram as dificuldades para o avanço, mas se comprometeram a construir pontes para o entendimento a ser buscado no final deste mês em Doha, capital do Catar. A aposta é oportuna: após um início promissor – em que o Brasil se articulou com outros produtores agrícolas através do G-20 –, as negociações caminham para um impasse que congelaria o "statu quo" no intercâmbio internacional.

Numa dimensão mais ampla, a OMC põe à prova a política externa do atual governo, lançada com um ambicioso objetivo de afirmação nacional e cuja face mais ostensiva foi a diplomacia presidencial exercida por Lula em suas viagens ao redor do mundo. O problema é que, dosada de tintas visando a resgatar a aliança dos países da periferia, espalhar a luta contra a pobreza etc., ela se deparou com obstáculos difíceis.

Também no Mercosul e no entorno sul-americano, o Brasil tem colhido frutos magros, e o bloco chega aos 15 anos sob ameaça de dissolução impulsionada pelos sócios menores. O Mercosul todo "reclama uma "refundação" em bases institucionais mais sólidas", aduziu o político argentino Carlos Alvarez, presidente de sua comissão representativa. Assim, à controvérsia entre Argentina e Uruguai, a propósito da construção de duas fábricas de papel na divisa entre os dois países, segue-se o desencontro entre Paraguai e Brasil na região da Tríplice Fronteira.

Essa última questão interessa de perto ao Paraná, por se tratar de nossa fronteira viva, com antiga tradição de relacionamento proveitoso. Essa convivência foi colocada sob risco com a diretriz do novo governo brasileiro de combater a pirataria de produtos e de repressão ao contrabando ampliado a partir do pequeno comércio fronteiriço. Não obstante, especialistas acadêmicos asseguram que o processo de integração está avançando – o que resta ser demonstrado.

Também o relacionamento Brasil–Bolívia já experimentou fase mais auspiciosa. O radicalismo do novo governo nacionalista boliviano, aos poucos mudando as juras de amizade fraterna aos brasileiros e ao seu presidente para um padrão contencioso que pode resvalar na encampação dos ativos da Petrobrás para exploração do petróleo e gás. O atrito, ainda larvar, recomenda prudência de nosso governo, evitando uma dependência do gás boliviano – a ser afastada via esforços para exploração das jazidas de Urucu na Amazônia e da Bacia de Santos no litoral.

Marcando um contraponto a tais insucessos, o Mercosul acaba de firmar com a Índia e África do Sul um entendimento que pode ampliar as preferências mútuas no comércio entre esses três expoentes do bloco dos emergentes no Hemisfério Sul.

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