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Na montagem de um pacote de iniciativas para a retomada do crescimento do país, o presidente Lula sinaliza que poderá adotar o modelo JK, de escolha de metas definidas para a infra-estrutura, ao lado de esforços para a racionalização da administração pública. Essa nova face da desburocratização precisa ser completada por outras ações, entre elas a redução da carga tributária ao nível dos países comparáveis ao Brasil, a segurança jurídica que se expressa pelo respeito à propriedade privada e a consolidação da governabilidade com apoio numa coalizão política efetiva.

Mas, começando pelo começo, o presidente precisa recorrer ao "choque de gestão" proposto pelo seu concorrente Geraldo Alckmin. É claro que, conforme o manual da política, o governo negará estar adotando idéias de outros candidatos, mas bons projetos não precisam de paternidade: para aplicá-los basta que consultem o interesse público. O governo pode se socorrer ainda, do argumento de que especialistas fora da política, como o professor Luiz Gonzaga Beluzzo, seguem na mesma direção, defendendo um tratamento de choque para melhorar a gestão da máquina pública.

Ademais, essa estratégia foi escolhida por dirigentes anteriores, sempre enfrentando a inércia burocrática. Assim, em seu tempo, o presidente Getúlio Vargas buscou profissionalizar a burocracia federal com a criação do Dasp e, no seu segundo período, das empresas estatais. JK utilizou a figura dos Grupos Executivos para tocar seu Plano de Metas, ladeando a burocracia dos ministérios. Sem esse recurso, reconheceu depois, não teria podido fazer "50 anos em 5".

Os militares recorreram às mesmas estatais e, numa segunda fase, ao planejamento e à desburocratização. Na redemocratização, notadamente com Fernando Henrique, houve forte ênfase na desestatização via privatização. Mas dificuldades operacionais e um certo viés – a desconfiança na maturidade do mercado brasileiro de capitais – conferiram ao processo uma dubiedade explorada nas eleições gerais de 2003 e, agora, repetidas na recente campanha sucessória.

Para vencer a burocracia, contudo, é preciso vontade política, advertem os especialistas Geraldo Piquet Carneiro e Antônio Marcos Logo, que assessoraram o ministro Hélio Beltrão em 1979, quando foi implantado o programa de desburocratização. Combater o papelório inútil, a tramitação eternizada dos processos administrativos e até o inexplicável "reconhecimento de firma" (que acaba de retornar na Justiça do Paraná) envolve decisão. "Burocracia é poder" e velhas rotinas têm de ser rompidas com coerência e determinação, explicam os consultores daquele bem-sucedido esforço.

Agora, "não dá para fazer omelete sem quebrar os ovos" e, ao prometer a centrais sindicais e movimentos sociais que vai manter todos os direitos; ao limitar sua reforma tributária a cortes apenas setoriais na carga de tributos e assim por diante, o presidente Lula pode estar restringindo por antecipação o alcance de suas medidas.

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