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As eleições de ontem coroam a democracia, sistema de autogoverno do povo que adotamos ao lado das nações civilizadas. Melhor alternativa para a seleção das lideranças chamadas a exercer temporariamente o poder, a democracia não se esgota nas eleições, mas o ato de votar é o mais importante do cidadão. Nesta dimensão, ao optar por um segundo turno em consultas majoritárias para presidente (hipótese que indicavam as pesquisas até o fechamento desta edição) e para governador – no Paraná (já definida pelas urnas) e em outros estados –, o recado das urnas foi importante, em defesa de uma avaliação mais cuidadosa sobre os concorrentes antes da decisão final.

Essa opção pluralista mostra que, embora imperfeita, a democracia brasileira incorpora evolução superior à de países próximos e o segundo turno, mesmo adiando o resultado definitivo, confere ao candidato a ser escolhido uma legitimidade inquestionável para governar.

Mesmo assim a consulta sinalizou que o eleitor brasileiro médio quer ética na política, confirmando pesquisas recentes. Com efeito, elas indicavam influência dos recentes escândalos sobre o comportamento do eleitor, não só por seu impacto sobre o ânimo do eleitor como pelo efeito cumulativo das crises anteriores enfrentadas pelo grupamento no controle da administração federal.

A sucessão de problemas envolvendo o círculo do poder em Brasília afetou a aceitação da coalizão vitoriosa em 2002. Apesar dos acenos à base do eleitorado, não se governa sem o endosso da parcela mais esclarecida da opinião pública – dada a influência da imprensa, da intelectualidade não engajada em legendas e dos segmentos mais modernos: empresários, profissionais liberais e executivos de maior nível.

Ao lado das questões éticas, o governo atual acumulou sucessos e passivos, que entram para a ordem do dia, no debate que se abre em segundo turno. Entre os positivos, a consecução da auto-suficiência em petróleo ou o alargamento das vagas universitárias via ProUni. Mas seu ganho principal foi confirmar a estabilidade fiscal, ao lado de aprofundamento na distribuição de renda. Porém o governo Lula acumulou equívocos: carga tributária elevada; alinhamento excessivo na política externa; aparelhamento da máquina do estado acarretando uma gestão de baixa eficiência administrativa e tolerância com desobediência à lei por movimentos ditos sociais. A falha principal, contudo, foi de política econômica que, ao sustentar juros altos mais câmbio desalinhado, aprofundou o erro do governo anterior de Fernando Henrique e impediu a retomada do crescimento.

Fixado o voto majoritário abre-se o ensejo para reformas institucionais de natureza política, social e econômica, mas elas precisam ser introduzidas na fase inicial de governo, quando intacto o capital político obtido nas urnas. Finalmente, a rodada eleitoral de ontem consolida a mais longa fase de normalidade institucional do país, atestando o vigor de nossa cultura democrática.

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